Chiquinho Manco – Um dos vultos do Catalão Centenário – Deu à cidade os primeiros doutores – Sua farmácia fundada há 101 anos, ainda funciona no mesmo local

O valor atual de uma determinada sociedade é a consequência da orientação tomada pelos seus antepassados. Os pontos altos de Catalão atual são os frutos dos esforços de nossos pais ou nossos avós.

Desde os tempos remotos de Roque Alves de Azevedo (1838), a mais brilhante das cidades sulinas do Estado de Goiás tem proporcionado às letras, à ciência e às artes cérebros fulgurantes no mundo goiano. Seara fecunda de espíritos elevados e cultos foi sem dúvida Francisco Vitor Rodrigues (avô).

Nascido em Catalão em 3 de dezembro de 1830, faleceu a 16 de setembro de 1893, deixando um rastro luminoso pelo bem que praticou na sua cidade. Chiquinho Manco, na intimidade, era filho de Francisco José Rodrigues Manco (Chico Manco Velho) e de d. Messias Carlota de Souza. Nota-se como fato curioso o sobrenome Manco devido a um defeito físico, que usou e legou a alguns filhos sem o menor complexo. O jovem Chiquinho Manco dedicou-se desde logo ao comercio em geral e a farmácia, no mesmo lugar onde hoje se encontra Farmácia Felicidade, nome de sua esposa. Esta farmácia que completou também 100 anos em 1958, passou posteriormente para seu filho Alceu, depois Christiano, que nela viveu e trabalhou durante 69 anos, seu neto José Victor até 1950, e agora seu sobrinho neto João Netto de Campos II.

CRAC Antigo

FOTO: Farmácia Felicidade em 1949

Chiquinho Manco uniu-se matrimonialmente a d. Felicidade da Silveira Rodrigues, senhora muito piedosa e de virtudes peregrinas, falecida em 1916. Era irmã de Henriqueta Christina Netto, matriarca da numerosa família Netto, entrosada em quase todos os troncos do Catalão Centenário. Do matrimonio de Francisco Victor Rodrigues, nasceram 14 filhos dos quais sairiam os primeiros catalanos formados em escolas superiores, são eles: Josias Leopoldo, Maria Leopoldina, Arminda I, Alceu, Virgílio, Christiano, Arminda Francisca do Amor, Divino, Leopoldo, Josias, Benvinda Donae, Zenaida Illuminata, Marietta, Izabel e Gastão de Deus. Dêstes, Maria Leopoldina, Arminda I, Virgílio, Marietta e Izabel faleceram em tenra idade.

Em 1877 Chiquinho Manco, já comerciante prospero e farmacêutico pratico e conceituado, depois de construir elegante e imponente residência (o velho sobrado há pouco demolido), resolve levar seus filhos Josias e Alceu para estudar na Côrte do Rio de Janeiro, essa Babel corruptora como diria êle mais tarde numa das suas memoráveis cartas de conselhos aos filhos. Empreendeu então uma viagem a cavalo ao Rio de Janeiro, levando cerca de 2 meses com a espôsa e os dois filhos. Viagem dispendiosa e perigosa para a qual se necessitava grande arrôjo. Era como se fossemos hoje ao Japão atravessando mares infestados de piratas. Levava com capataz o Antônio César, marido da finada D. Jerominha que residia onde hoje está o Ginásio S. Bernardino de Siena. Conhecida pelo seu grande amor aos bichanos, que recolhia e abdicava, D. Jerominha criou João Gervásio, tendo morrido em avançada idade.

D. Felicidade, Dadinha, como era chamada na intimidade deixou a menina Zenaida com 10 meses, tendo-a amamentado pela ultima vez antes de subir ao silhão. Zenaida desfruta ainda de boa saúde sendo a única filha viva.

Pelos chapadões afóra, Francisco Victor, homem de fé e vontade firmes, cavalgando por dias intermináveis, levava no coração o desêjo inabalável de formar seus filhos para a grandeza do seu torrão natal. Êle o conseguiu. Anos após sob a presidência do imperador D. Pedro II, que cochilava durante a colação de grau, recebia Josias o titulo de doutor em medicina; Alceu formava-se em farmácia. Mais tarde Gastão de Deus (Vôsico) formava-se em direito pela Faculdade de Direito de Goiás. Christiano iniciou seus estudos na Politécnica do Rio, mas por motivos alheios à sua vontade não poude terminar o curso de Agrimensura.

Eram os primeiros catalanos a forma-se por escolas superiores. Brilhantes foram as suas carreiras. Destacaram-se sobre tudo no terreno literário. Ambos são hoje patronos de cadeiras na Academia Goiana de Letras. Poetas de grande sensibilidade, deixaram obras imperecíveis pela sua pureza de estilo. Gastão foi também jornalista de mérito e escritor, deixando várias obras como “Traços Multicores”, “Agapantos” e “Páginas Goianas”. Alceu deixou um conjunto de lindas poesias e poemas destacando-se a “Extrema Verba” em puros versos alexandrinos e verdadeira jeremiada de um coração apaixonado. Nos serões da velha Capital de Goias  era muito comum as senhoritas da sociedade declamarem a “Extrema Verba” . Alceu morreu jovem em Catalão e Gastão faleceu como Juiz de Direito de Anápolis, tendo essa cidade homenageado o seu nome, dando-o a uma de suas ruas. O dr. Josias faleceu em Sacramento, no Estado de Minas, onde clinicava . É o pai de Dirceu Adjucto Vitor Rodrigues, grande catalano e intelectual, residindo hoje na capital paulista onde leciona. Grande latinista, é autor de vários compêndios para o curso de humanidades, inclusive um dicionário de latim. Seus filhos Edgard e Oswaldo são respectivamente advogado e dentista (este já falecido).

Christiano casou-se com D. Amazilia, da numerosa família Campos. São pais de Madre Lúcia, Madre Maria de Jesus e Madre Florência, educadoras no Rio e São Paulo, do dr. Francisco Victor Rodrigues (neto) catedrático na Faculdade de Medicina de Niteroi, do farmacêutico que relata estes dados históricos e de Flora Sylva, enfermeira pela Escola Ana Nery no Rio de Janeiro.

São netos de D. Maria Benvinda (Lilica) os drs. Astério Vaz, ceifado prematuramente em plena força de sua mocidade e ação dinâmica e Hélio Vaz, médico residente em Araguari.

D. Benildes casou-se com Randolfo Campos, grande catalano pela sua solida cultura e espirito de luta, tendo cursado o famoso colégio Caraça. São seus filhos os drs. Tharsis Campos e Jairo Campos, Aquêle, ilustre advogado militando no fôro de Catalão, e êste Desembargador em Curitiba.

Grande parte dos netos e bisnetos de Chiquinho Manco são hoje médicos, engenheiros, militares e professores ou ainda acadêmicos em Catalão, Belo Horizonte, Rio e São Paulo. O seu exemplo proliferou e elevou o nível intelectual da família e da cidade. Catalão projetou e elevou o nível intelectual da família e da cidade. Catalão projetou-se no cenário estadual e nacional pelo espirito aguçado dos seus filhos.

Seria muito longo enumerar aqui todos os valores morais e intelectuais de outros troncos de Catalão, o que deixo para que outros conterrâneos o faça, com mais conhecimento de pormenores que me escapam. A verdade é que os há em grande e honroso numero e nenhum maior do que o seu semelhante.

(José Victor Rodrigues)

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FOTO: Farmácia Felicidade em 1930… 

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FOTO: Farmácia Felicidade em 2016… 

OBS: Esse artigo foi escrito por José Victor Rodrigues, em 1859, para o Jornal Gazeta do Triângulo e foi publicado pelo mesmo em Araguari, quinta-feira, 20 de agosto de 1959.  O BLOG da Maysa Abrão transcreveu todo o artigo na forma original e como era a ortografia daquela época.

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