Catalão 157 anos – Morro das Três Cruzes por Cornélio Ramos

O morro das Três Cruzes, onde hoje se encontra instalado o Terminal Rodoviário, cercado de residências por todos os lados e com seu cume achatado por máquinas de terraplanagem, tinha, à sua frente, três cruzes metálicas revestidas de vidro, voltadas para a cidade e devidamente iluminadas. Foi outrora uma colina deserta, assentada em campo completamente despovoada e bem distante do centro da cidade de Catalão, que, nas primeiras décadas deste século, se agrupava apenas às margens do ribeirão Pirapitinga.

Existia em cima do morro uma pequena necrópole denominada Cemitério dos Anjos, destinada ao sepultamento de crianças, sobretudo pagãs, que morriam, muitas vezes sem nomes e sem sacramentos.

Contam os antigos que, no tempo em que era vigário da paroquia um sacerdote conhecido por frei Antônio, uma menina com aproximadamente seis anos, após sofrer um ataque de catalepsia, foi sepultada como morta e, somente tempos depois, seus familiares, em conversa com pessoas mais esclarecidas, se convenceram de que a menina havia sido sepultada viva.

O remorso levou a família a grande desespero. Aflitos e numa tentativa de reparação do equivoco, implantaram na sepultura da garota uma grande cruz de madeira, ao pé da qual realizavam frequentemente várias cerimonias religiosas em homenagem à menina ali sepultada.

Tempos depois, coma chegada do padre Joaquim Manoel de Souza, em substituição ao pároco anterior, mais duas cruzes foram colocadas, uma de cada lado do antigo cruzeiro, para tornar o morro semelhante ao Monte do Calvário, onde Jesus Cristo foi sacrificado entre dois ladrões.

O padre Sousa, com auxilio dos paroquianos, quis assim prestar também homenagem às demais crianças ali sepultadas. Dessa época em diante, o Cemitério dos Anjos passou a denominar-se morro das Três Cruzes.

Em tempo de longas estiagens, secas bravas que caíam como praga sobre o município, torrando as lavouras e as pastagens, matando o gado de sede e de fome, os devotos faziam penitência e, em longas procissões, subiam a colina carregando na cabeça, como sacrifício, pesadas pedras e potes com água, para depositar ao pé do cruzeiro maior; agrupavam-se ao redor do madeiro para rezar o terço, cantar ladainha e realizar outras cerimônias religiosas. Afirmam os mais antigos do lugar que, após esses sacrifícios, milagrosamente a chuva caía com abundância.

Catalão, com o passar do tempo, desenvolveu-se muito, cresceu bastante, e o morro das Três Cruzes foi envolvido pelas casas residenciais.

No dia 31 de janeiro de 1977, com a posse do Prefeito Municipal Sr. José Evangelista da Rocha e seu vice Divano Elias da Silva, o tradicional morrinho foi ameaçado de parcial destruição.

Máquina pesadas demoliram completamente o seu cume, levando de roldão com aterra os três cruzeiros de madeira, transformando o alto da colina num grande terraço, sobre o qual construíram a estação rodoviária. Era o progresso que avançava.

Nova denominação foi dada à colina, que passou a chamar-se simplesmente: Terminal Rodoviário.

Não obstante trata-se de um grande melhoramento para a cidade, os saudosistas não se cansavam de lamuriar a perda da romântica colina com os seus três cruzeiros de madeira. Colina que, ultimamente, não passava do local predileto para passeio de românticos namorados durante o dia, e encontros clandestinos de casais durante a noite.

Divano Elias da Silva, então no cargo de Prefeito, sensibilizou-se com a lamúria e mandou construir três cruzeiros de ferro revestidos de vidro, providos de lâmpadas elétricas para iluminá-los durante a noite, determinando a colocação dos mesmos no local das antigas cruzes de madeira.

À noite, quando a colina estava toda iluminada, esboçava uma maravilhosa paisagem, em contraste com a soturna visão do passado.

Hoje, o modesto Terminal Rodoviário traz aos mais velhos habitantes da cidade apenas uma vaga lembrança do Cemitério dos Anjos e, aos mais jovens, reminiscências do tempo do namoro no morro das Três Cruzes.

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No final do mês de janeiro de 1984, o novo prefeito Haley Margon Vaz, tendo em vista que um temporal derrubara uma das cruzes de metal, e considerando que, apesar da beleza, as outras duas não ofereciam a necessária segurança, resolveu substitui-las por três outras cruzes de madeira, semelhantes às primitivas.

O que o ativo e dinâmico Prefeito da cidade não vai conseguir nunca é devolver a languidez e o antigo romantismo à histórica colina dos saudosos namorados de outrora…

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O texto acima, do escritor Cornélio Ramos, foi publicado em sua obra “Catalão de Ontem e de Hoje”, de 1984. Atualmente, onde era o Terminal Rodoviário está o Instituto Tecnológico do Estado de Goiás em Artes Labibe Faiad, inaugurado no dia 23 de março de 2006. Mas, como mostra a foto de Jozéveríssimo Fotografia , as três cruzes permanecem no mesmo local.

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