O Eco do Passado – O Assassinato de José Augusto

Marciano Baiano foi citado por mim anteriormente, a respeito de sua histórica chegada a Catalão, no início do século XX, vindo a pé de Barreiras, na Bahia, rumo a Cristalina, atraído pelos cristais, e de lá para Catalão, por conta dos rumores da construção da Estrada de Ferro, que vinha adentrando Goiás.
Através do Marciano ficamos sabendo da história de um ex-colega seu na Estrada de Ferro, chamado José Augusto que, ao deixar a ferrovia, arrendara um trecho de terras do Sr. Horácio Bueno, vizinho de papai.
Horácio Bueno, compadre de meu pai, era o vizinho mais próximo da nossa fazenda, distante cerca de dois quilômetros. Ele era pai de numerosa família e entre seus filhos, a Dª. Custódia, viúva do saudoso Jorge Rosa, um dos grandes lutadores no comércio de Catalão.
No terreno arrendado, o José Augusto instalara uma olaria e, como era muito trabalhador e conhecia bem a profissão, ia ganhando um dinheirinho no negócio. Tinha o José Augusto uma companheira nova e muito bonita, a Maria Augusta. Como o José Augusto “não guardava pau para bater em cego”, sempre arranjava uma complicação com os vizinhos por qualquer “dá cá uma palha”. Andava sempre armado e por qualquer coisa puxava a arma!
Como tinha de alimentar a turma de empregados da olaria, ia sempre buscar leite, ora na Fazenda do meu pai, ora na do Limírio Machado, pai do Agrício, que ficava mais perto da olaria.
Segundo o compadre Marciano, o Sr. Limírio avisara ao José Augusto que somente aos domingos o leite seria cedido gratuitamente. Mas, como de costume, o José Augusto não lhe deu ouvidos e, no dia seguinte, pegou a lata para trazer o leite, e, levando também uma carabina 44, foi “caçar encrencas”. Mas, como diz o provérbio, quem procura, acha.
Logo que chegou ao curral, o José Augusto encontrou o filho do Sr. Limírio, o João Simeão, de cócoras, tirando o leite de uma das vacas. Deu-lhe um pé na bunda e tomando-lhe o balde, pôs-se a tirar o leite. O João Simeão correu para os fundos da casa, enquanto o pai, de uma janela, atirava com uma velha carabina no atrevido, sem conseguir acertar tiro algum. Aí o esperto baiano, que largara sua arma encostada na porteira, puxou de uma enorme peixeira, gritou “Segura, velho, pois eu vou te pegar é na faca”, e avançou rumo ao Limírio.
Ele o teria matado, caso o rapazinho, o João Simeão (que levara o chute), não surgisse ao lado do pai e atirasse no peito do José Augusto com uma “passarinheira” de carregar pela boca. O baiano, ferido, ainda tentou voltar para pegar a carabina, mas só deu alguns passos e despencou! O tiro fora mortal, bem no coração.
A Dª. Candinha, esposa do seu Limírio, vendo aquilo, gritou de uma das janelas: “Corta a zoreia dele, fio”! O João, rapazinho ainda, não pensou em nada e sacando de sua faquinha da cintura, zás, cortou mesmo uma orelha do José Augusto. Aí o seu Limírio, que entendia de leis, gritou “Não podia cortar não, filho”! Mas a Dª. Candinha arrematou “Cola com cera, fio”!
Mas a orelha cortada agravou o crime e deu um trabalho feio para meu pai, que foi uma das testemunhas. Para proteger seus vizinhos, ao depor papai disse que quem atirou foi o velho Limírio, mas quem cortou a orelha foi o Simeão, que por ser menor, estava isento do crime e que o seu Limírio havia matado em legítima defesa.
Tudo foi narrado pelo compadre Marciano, que trabalhara na olaria do Zé Augusto, numa época que eu ainda não era nascido. E, no final, o Marciano ficou com a jovem viúva do José Augusto! Eu os conheci, muitos anos depois, quando eles já tinham uma filha da minha idade, a Joana, com a qual tive meus namoricos.

FONTE: Capítulo do livro O Eco do Passado, de autoria de Paulo Hummel

 

 

 

 

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