O Eco do Passado – O FIM DO ESBARRANCADO

Uma outra obra de grande valor que realizamos foi o aterramento do esbarrancado, próximo à Santa Casa. Era uma enorme cratera, um verdadeiro canyon, formada pela erosão durante vários séculos, que ameaçava engolir a Santa Casa e boa parte do bairro. Era uma obra que vinha desafiando todas as administrações municipais de Catalão.

Com o valiosíssimo auxílio do Dr. Antônio Coelho Vaz, então Diretor Regional do DNER, de Domingos Borges e do Sr. Wilson Barbosa de Lima, conseguimos um levantamento de toda a área da cratera que chegava a 300.000 m3. Havia árvores de imbaúba de mais de 15 (quinze) metros de altura que nem alcançavam as bordas da cratera.

Contratamos mais de 150 (cento e cinqüenta) operários e começamos a limpeza do local que durou mais de 15 (quinze) dias. Com a cobertura do Dr. Antônio Coelho Vez, calculamos que o rebaixamento de alguns trechos do terreno onde ele era mais alto e com o total rompimento da área sadia (sem erosão) viria o volume de material para entupir a cratera que cairia pela metade!

Grande foi nosso trabalho junto à assessoria do Ministério dos Transportes para obtermos autorização para que o nosso DNER (do Dr. Antônio Coelho) pudesse ajudar a Prefeitura, aos sábados e domingos inclusive, com tratores de esteira, carregadeiras e moto-niveladoras. A Prefeitura não dispunha de nada disso. Fizemos o compromisso de abastecermos as máquinas e gratificarmos os.seus operadores pelas horas-extras.

Ao mesmo tempo, donos de caminhões como os saudosos Anacleto Luiz, Edgar Silva, Antônio Tavares, Eurípedes Balsanulfo dos Reis punham seus veículos à disposição da Prefeitura em troca, apenas, do combustível. Todos, grandes amigos e de um enorme coração!

Comprei 200 (duzentos) sacos de cimento do Sr. Ozires Ulhôa, graças à mediação do seu irmão Wagner Ulhôa, grandes amigos. Cimento destinado à fabricação de manilhas, em ritmo acelerado, necessárias para a drenagem de uma grande parte do fundo da cratera de onde minava água.

Foi uma batalha gostosa de ver. Muitos populares passavam horas assistindo àquele trabalho braçal e de máquinas. Muitos até levavam lanches para os funcionários. E com apenas uma semana já começávamos a assentar as manilhas dos drenos!

Nesse meio tempo, graças ao auxílio do saudoso Dr. Jacy Netto de Campos, conseguimos com o Dr. José Alves, Presidente do Consórcio Rodoviário Intermunicipal, uma grande ajuda de 10 (dez) caminhões, carregadeiras e moto-niveladoras. Aí, a coisa pegou fogo. Os serviços começavam a aparecer sob os aplausos dos que acompanhavam a nossa luta. E era uma boa parte da população.

Mas, como sempre, em se tratando de coisa pública, começam a surgir pedras no caminho. Certa manhã, a oposição, vergonhosamente, conclamou alguns adeptos, (mais de pessoas curiosas) e invadiram o canteiro de obras, paralisando o serviço, enquanto alguns discursavam, pondo defeito nos trabalhos, dizendo que em breve as chuvas levariam tudo!
Meus anjos da guarda, os guardas-mirins, avisaram-me, apavorados. Aquilo foi a gota d’água que faltava! Telefonei para nosso Delegado Especial de Polícia, o Tenente Alípio, pedindo a ele que pegasse o jeep (que eu conseguira para a polícia) e viesse com toda a tropa para frente da Santa Casa. Chamei dois funcionários de confiança, o Lázaro Joaquim José e o Chico e corremos para o local das obras.

Chegando lá, vimos todo nosso pessoal e as máquinas parados, impedidos pelos manifestantes exaltados, e até por vereadores! A polícia chegou rapidamente e fizemos uma frente de cima de um caminhão, de onde eu gritei, dando a eles dois minutos pra deixarem a área. Não levou nem um minuto para os anarquistas evaporarem e alguns até correrem.
Aí foi uma festa! Os motoristas e os operadores das máquinas buzinando e os operários dando vivas, voltaram aos serviços.

As armas dos policiais foram guardadas e o serviço seguiu em frente, cada vez mais rápido, com grande incentivo dos moradores vizinhos. Entre os quais me lembro do Moisés Salomão, do Sr. Verus Oedenkoven, do Sr. Nabi (do Nicolau) e até mesmo do Sr. Nicolau Abrão, sempre presentes a toda frente de serviço da Prefeitura, levando balinhas e lanches para os trabalhadores. Um grande exemplo que muito nos valeu! E foi aí que apareceram grandes cidadãos que arregaçaram as mangas e muito me ajudaram, aliás, ajudaram a Catalão.
Ali estava presente, a qualquer hora, o Domingos Borges! Como funcionário, era um exemplo e como companheiro era um pai; o Dito Neves, “duro na queda”, a quem Catalão deve demais; o Dito Rosa, com sua lealdade nos apontamentos. Mas, o bom mesmo era que Catalão parecia ter se encontrado! Havia alegria.

Mesmo com a oposição tentando atrapalhar, representantes do atraso, o esbarrancado desapareceu, surgindo ali uma importante área recuperada, com centenas de lotes e linda de morrer, bem no coração da cidade.

Fora mais um milagre, assim, pensava eu. E depois partimos para a Av. João XXIII, que não existia. Mas essa seria outra luta.

O Esbarrancado
Eram três enormes erosões, interligadas, sendo essa da foto a 2a mais profunda.
(Foto do acervo de Maria da Glória Sampaio)

FONTE: (Extrato do livro O Eco do Passado, de Paulo Hummel)

 

 

 

 

 

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