Recordações da Academia Catalana de Letras – A rapariga Bernardina

A Academia Catalana de Letras lembra que, Bernardina era uma rapariga que morava na Rua do Fogo, em uma casa bem próxima ao antigo cemitério da cidade (Praça Duque de Caxias). Foi uma mulher bonita, que vivia enrabichada com o Intendente Salomão de Paiva, homem metido a valente e chefe político do município. Bernardina sentia-se muito bem protegida e, muitas vezes, por nada desacatava outros moradores. De certa feita, em 1923, um fazendeiro de Olhos D’água, conhecido por Zé Carretel, desentendeu-se com a rameira e, sem mais nem menos, deu -lhe uma tremenda surra. Para mostrar que não tinha medo do coronel, emendou dizendo que “rapariga de Intendente também apanha”. O chefe político, furioso, enviou dois jagunços a Olhos D’água (Zacarias e Antonio Nunes) para liquidar o fazendeiro. Chegaram como amigos e foram bem recebidos na fazenda. Zé Carretel mandou pegar um frango no quintal para o almoço e, na correria do frango, descobriram duas carabinas escondidas pelos visitantes em uma moita. Assim, os jagunços foram descobertos, amarrados e assassinados. As carabinas (papo-amarelo) foram jogadas em um açude e os corpos foram sepultados em covas rasas no fundo do quintal. Dizia a vizinhança que, quando chovia muito os pés dos defuntos ficavam descobertos, causando susto nas pessoas, que passaram a considerar a fazenda mal assombrada. Zé Carretel quis revidar o ataque e enviou jagunços para matar o Intendente. No entanto, foram identificados e cercados por olheiros de Salomão (Lucio Madeira e Zé Taipeiro), assassinados e jogados de uma ribanceira do córrego Água Suja. Enquanto isso, Bernardina continuava a sua vidinha de sempre. Semanalmente viajava de trem até Ouvidor, ponto final dos trilhos, local de pernoite, encontrando-se com Manoel Parada, um maquinista português, com quem mantinha um romance secreto. O caso de amor, no registro do escritor Cornélio Ramos, era bem sugestivo: “Quando o trenzinho da Goiás se aproximava de Catalão, vindo de Goiandira, e fazia a curva lá no córrego do Almoço, o maquinista português puxava a corda do apito da ‘maria – fumaça’, dando um repicado diferente. Era o sinal para a Bernardina correr para a estação e pegar o trem”. No fim das contas, ainda em 1923, os jagunços de Salomão conseguiram matar o Zé Carretel numa tocaia em sua roça de milho. Também Salomão de Paiva não teve melhor sorte. No ano seguinte foi assassinado por inimigos políticos. Bernardina ficou livre. Mudou-se para Araguari onde foi viver com o português, longe dos perigos de Catalão. Ficou somente a lembrança, na memória dos antigos, da sangrenta briga pela sedutora rapariga. Coisas de Catalão.

FOTO: Povoado de Olhos D´água, FONTE: IBGE

FOTO: Catalão nos tempos de Salomão de Paiva

Luís Estevam

 

 

 

 

 

 

 

 

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