Recordações da Academia Catalana de Letras – Coronéis do cenário catalano na velha república

A Academia Catalana de Letras recorda que, o poder em Catalão, durante quase um século, foi exercido pelos coronéis. Na sua maioria, homens sérios e de boa conduta que fizeram o nome da cidade ser respeitado em todo o Triângulo Mineiro e nos demais municípios de Goiás. Na época da velha república, os coronéis comandaram os destinos de Catalão, cada um a seu modo, ocupando lugar privilegiado na memória dos habitantes da região. Os mais conhecidos foram: José Maria Ayres, Antonio Paranhos, Isaac da Cunha, Salomão de Paiva Rezende, João de Cerqueira Netto, Pedro Ayres, Augusto Netto Carneiro, Alfredo Paranhos, Bento Xavier Garcia, Augusto Pimentel Paranhos e José Netto Carneiro, entre outros.

Mas, Catalão virou cidade antes da República Velha, em 1859, em plena monarquia, quando a condecoração de coronéis civis teve início.

Quem distribuía a patente de coronel da Guarda Nacional eram os aliados de Dom Pedro II. A honraria era concedida para os líderes políticos, desde 1831, por Diogo Antonio Feijó, conhecido como Padre Feijó, estadista considerado como um dos fundadores do Partido Liberal no Brasil monárquico. O interessado na patente de coronel tinha que ser uma pessoa de grande liderança, tipo chefão do interior, para receber a deferência. Com essa medida, os dirigentes da monarquia obtinham aliados, garantindo a costura política do território nacional.

O novo coronel, no dia da cerimônia de posse, que sempre ocorria no Rio de Janeiro, recebia o título, a farda e a licença para mandar na sua região ou município. E da forma que lhe aprouvesse. A sua vontade, na maioria das vezes, tornava -se decisão jurídica, política e administrativa na sua comunidade. O uniforme era bem vistoso. Uma farda de cor azul marinho, tendo um listão vermelho, na parte externa da calça, que ia da cintura até o tornozelo. Um boné bem armado na cabeça, enfeitado com um florão, contendo o símbolo das armas nacionais. Nos ombros, as dragonas douradas e, no braço esquerdo a divisa da patente de coronel. Do lado direito, uma comprida espada, com bainha de prata ou de níquel, conforme as posses do dono.

O coronel vestia essa farda nas festas cívicas e religiosas, quase sempre amarrotada porque vinha enrolada nos alforjes do cavalo. Ajudava a conduzir o andor dos santos nas procissões, todo empertigado, como se estivesse prestando um grande serviço à nação. Eram figuras folclóricas, mas muito poderosas. O primeiro coronel de Catalão foi Roque Alves de Azevedo. Era uma pessoa bastante exótica. Gostava de se vestir de azul no dia a dia e era tão alto e magro, de pernas finas, que parecia uma aranha.

Essa descrição foi feita pela comitiva de naturalistas franceses que, em 1844, foi hospedada pelo coronel na Vila do Catalão. O chefe da expedição, Conde de Castelnau, havia atravessado o Paranaíba e trouxera uma carta de apresentação para Roque Alves de Azevedo. O coronel recebeu a comitiva de pesquisadores vestido a seu modo: camisa, colete, paletó, meias altas, calças curtas bem acima dos tornozelos, todas peças de cor azul. Até o chapéu de palha na cabeça era azulado.

Várias histórias contavam-se desse coronel. Diziam que gostava de promover festanças com os amigos, acompanhado de cortesãs. Nessas ocasiões, noites de cachaça e orgia, obrigava os convidados a dançarem inteiramente nus. Mas, ele próprio se resguardava: conservava o colete e as botas em sinal de superioridade.

O coronel Roque não teve herdeiros naturais. Adotou um menino e concedeu-lhe o próprio nome. Roquinho, como ficou conhecido, tornou-se poeta, músico, boêmio e muito amigo do escritor e juiz Bernardo Guimarães.

Antes de se tornar Av. 20 de Agosto, o trecho da rua que passa em frente ao Colégio Mãe de Deus, chamava-se Rua Cel Roque Alves de Azevedo.

Somente com o falecimento do coronel Roque, outros coronéis entraram para o cenário catalano no período da velha república.

FOTO: Diogo Antônio Feijó que instituiu a Guarda Nacional em 1831

FOTO: Primeiros modelos de uniforme para coronéis da Guarda Nacional

FOTO: Francis de Laporte de Castelnau

FOTO: Obra do naturalista Castelnau que visitou a Vila de Catalão em 1844

Luís Estevam

 

 

 

 

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