UMA SENHORA DE CASA NOVA, REENCONTRA O SENHOR DO TEMPO… POR Maysa Abrão

Já sou uma senhora bem vivida. Aprendi muito observando o progresso e a modernidade. Sinceramente, posso dizer que não sou bisbilhoteira, mas uma exímia observadora. Observo essa cidade, seus moradores e os forasteiros a invendáveis décadas. Mesmo quando da minha janela só conseguia ver pelas frestas os feixes de luzes entrarem anunciando os acontecimentos, estes nem sempre vinham acompanhados de boas notícias. Nossa, presenciei as brigas políticas entre Papo Roxo e Papo amarelo, as atrocidades contra Antero da Costa Carvalho. Vi o terror amedrontar a cidade com o matador Jacy a solta pelas ruas, mas também presenciei o glamour noturno da cidade, as comemorações alusivas ao centenário da cidade, a chegada dos bancos, lojas, armazéns… Nossa quanta coisa!

É, sou senhora experiente! Uma excelente anfitriã. Nos finais de semana de outrora recebia os cidadãos ilustres, pessoas de posses e os desafortunados também para os footings. Homens, mulheres, pretos, brancos, imigrantes todos passavam diante da minha janela seguindo caminhos diferentes. As famílias tradicionais tentavam ocupar o centro das atenções, os nem tão ilustres roubavam a cena com sua alegria espontânea e sua vivacidade. Mas quantas vezes presenciei a segregação racial. De um lado, os ditos brancos endinheirados; do outro, os negros com suas trampolinagens driblavam as ordens pré-estabelecidas pelo jogo da vida e ressignificavam suas tradições.

Como era bom ouvir o som do samba e das marchinhas de carnavais que adentravam as minhas janelas dos fundos vindas dali, do Clube 13 de Maio reduto dos pretos e pobres, mas nem por isso menos importantes nas minhas lembranças. E os batuques e louvações da Congada? Realizavam suas festas com muita organização e talento.

Sabe o que sempre me deixou curiosa e com a pulga atrás da orelha? Era tentar entender por que o som que adentrava minhas janelas da frente não tinha o mesmo vigor do som oriundo das janelas de trás. Ali em frente, no prédio branco e azul, orquestras animavam bailes e carnavais. Como era gostoso observar as damas e seus pares adentrando o Clube Atlético Catalano.

Rapagões roubando beijo das moçoilas; casais da sociedade indo participar dos concursos de misses, elegendo a mais fina flor da sociedade Catalana! Mas o que eu gostava mesmo era de ver os desfiles de carnavais. A rua aqui defronte ficava abarrotada de gente. Gente como eu, como você, como nós, catalanos de perto e de longe!

Que saudade do movimento do Cine Real aos finais de semana, do Trenzinho da Alegria trazendo diversão para a garotada. E os estudantes adoravam escorregar no corrimão do meu jardim… O Senhor Obelisco, sempre ranzinza, tentava manter a ordem, mais sem sucesso, lhe sobrando, apenas, resmungar… Ficava furioso quando não lembravam o que ele fazia ali, esquio, à frente do meu portão. Afinal, era senhor de patente, fiel representante dos pracinhas catalanos na II Grande Guerra.

O Senhor do tempo sempre adorou flertar comigo, um galanteador. Se dizia senhor de posses, representante do progresso, guardião das memórias da cidade; amigo inseparável do jovem palacete. Senhor de gênio difícil, se dizia de família tradicional, sempre quis roubar a cena, mas eu sempre brilhei. Até que um dia ele sumiu e nem endereço deixou. Segundo as más línguas foi despejado, perdeu o título de senhor do tempo para o rapazola de alcunha progresso recém-casado com dona modernidade.

Não sou uma senhora idosa; sou experiente e vivida. Gosto sempre de reafirmar: amo acompanhar as tendências contemporâneas. Resolvi me repaginar para acompanhar a pós-modernidade, neta do tempo, filha do progresso e da modernidade. E eu, uma mulher antenada resolvi mudar. Dar um tempo como os jovens de hoje dizem, mas estou voltando… E para minha surpresa quem voltou também? O senhor do Tempo. Está tão bonito, bem apessoado, se modernizou. Está um charme! Quando nossos olhares se cruzaram, hoje pela manhã, senti uma sensação diferente, acho que estou apaixonada e não é que ele correspondeu?! Estou achando que essa repaginada me fez bem…

Graças ao prefeito Adib Elias, em breve estou voltando,  aguardem!!! 

 

 

 

 

 

 

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