Romaria do Rosário e Folclore Catalano por Cornélio Ramos

“Festa do Rosário” em Catalão é um acontecimento histórico, com profundas raízes no passado, envolvendo várias gerações de importantes famílias, ligadas por uma ou outra forma ao desdobramento desta tradicional romaria; esperada sempre com ansiedade por todos os catalanos, da cidade, do município e que residem em outras localidades.

Já que falamos em “Festa do Rosário”, é bom que se diga algo sobre sua origem, sua implantação em nossa cidade, quem foi o pioneiro e por que isso aconteceu.

Em minhas obstinadas pesquisas, empenhado em conhecer a fundo nossa história, esbarrei várias vezes em fatos curiosos que me foram narrados por cidadãos nascidos no fim do século passado e outros no princípio deste; alguns já falecidos como os senhores Aguiar de Paula, Adalardo Mesquita, Eliziano Caixeta, Olívio Freire e Rosemar Paranhos.

Outros ainda vivos, como os senhores Vaspasiano Correa de Melo, Raul Calaça, José Conegundes, José de Melo, João Alves de Melo, Osório Leite e D. Zelaide da Cunha.

Especificamente, falando em “Festa do Rosário”, tive a oportunidade de ouvir o senhor Azamor Netto Carneiro: “O implantador da romaria em Catalão foi meu avô, Pedro Netto Carneiro Leão, mineiro de Araxá, que mudou para Catalão numa época que isto constituía uma temerária aventura. Receoso de fracasso fez uma promessa à N. S. do Rosário, santa de sua devoção venerada com pomposas festas em Minas Gerais; se caso fosse bem sucedido, implantaria em Catalão a “Romaria do Rosário”, em homenagem à Nossa Senhora, com uma festa tão grande, como ninguém nunca realizara em Goiás. Chegando aqui, casou-se com minha avó Enriqueta Cristina da Silveira; virou fazendeiro, ficou rico, mas quando pretendia cumprir a promessa, foi acometido de grave moléstia; temendo o pior, chamou a seu quarto meu pai Augusto Netto Carneiro, então com nove anos de idade e recomendou-lhe, no caso de vir a faltar, para pagar sua dívida para com a santa. Faleceu como previra. Meu pai cresceu, ficou adulto, casou-se com Maria Luiza da Costa, minha mãe, filha do padre Luiz Antônio da Costa, e, como meu avô ficou rico, senhor de terras e escravos e também apreciador das festas do rosário que na época eram realizadas aqui, salpicadamente, por escravos nas fazendas da rendondeza. Foi quando meu pai deliberou cumprir a promessa. Mandou alguns negros para Araxá, a fim de aprenderem as regras e técnicas das danças praticadas na terra de meu avô. De volta juntaram-se à negrada das várias fazendas, formando um numeroso grupo de dançadores. Gastou muito dinheiro para dar a todos uma indumentária característica. Quando achava-se todo aquele pessoal treinado e preparado para a festança, surgiu um inesperado obstáculo: o vigário Joaquim Manoel de Sousa, não concordou com sua realização, era festa pagã, brigou com meu pai, trancou a Igreja e fugiu com a chave. Todavia, o coronel Augusto Netto, desabusado como todos os coronéis daquele tempo, determinado como estava em cumprir a promessa, custasse o que custasse, mandou chamar o rezador de terços das fazendas, Antônio Romualdo Fernandes, um glutão, também conhecido por Antônio Guloso, para rezar as novenas e cantar as ladainhas. Arrombaram a porta da Igreja, começaram as novenas, soltaram a negrada nas ruas, dando início a maior festa até então aqui realizada e que continua há mais de um século a se repetir anualmente”.

FOTO: Igreja Velha Matriz, na época Madre de Deos que foi também Igreja de Nossa Senhora do Rosário – Catalão-GO, por volta de 1900

FOTO: Ternos Moçambique e Congos em 1907 

FONTE: Jornal A Voz do Sudeste – ANO I – Nº 18 – Organização José Candido – Catalão, 5 a 20 de agosto de 1986 – Página 7 – Edição Especial Catalão, 127 anos.

FOTOS: Museu da Congada, Catalão, Goiás; Museu Histórico Municipal Cornélio Ramos, Catalão, Goiás.