Primórdios do Povoamento em Santo Antônio do Rio Verde

O Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, pertencente ao município de Catalão – GO, é um local com muita história, no entanto, há várias lacunas quanto ao início do seu povoamento, gerando curiosidade e questionamentos.

Ilustração: Bandeirantes no século XVIII

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Entradas_e_bandeiras

 

A princípio, antes mesmo das expedições dos bandeirantes, reconhecidas pelas passagens em Paracatu-MG no século XVI e em Catalão – GO no início do século XVIII, a região provavelmente era habitada por povos indígenas nômades, já que o cerrado não era um bom local para fixar moradia. Posteriormente, parte destes povos foram levados por colonizadores portugueses para uma região correspondente atualmente à região mineira dos municípios de Paracatu, Vazante e Guarda-mor, onde seriam catequizados e até mesmo escravizados. Certamente tivemos povos indígenas vivendo no território do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, mas é algo que necessita de muito estudo e pesquisa para comprovar a veracidade da passagem e vivência destes povos por aqui. Há vários relatos da população local descrevendo artefatos indígenas encontrados no passado às margens dos rios na região, principalmente no Rio Verde, no entanto, por falta de conhecimento, estes artefatos eram descartados sem nenhum cuidado, perdendo assim importantes evidências da presença destes povos por aqui.

O escritor Edson Democh, escreveu em seu livro 1810: DAS TERRAS DA MÃE DE DEUS A CATALÃO, que a região de Santo Antônio do Rio Verde já era povoada desde o século XVIII, pelo menos desde 1736, onde existia o sítio do Mestre D’armas e, em suas proximidades, um quilombo formado por escravos foragidos de Paracatu-MG e São Domingos de Araxá – MG, conclusão muito contestada por falta de registros sobre o assunto, já que um sítio do Mestre D’armas é reconhecido como a origem da cidade de Planaltina – GO.

Em 1751, já havia autorização por parte da Capitania de Goiás para a exploração do Rio Batalha e Rio São Marcos para procura e exploração de ouro, rios pertencentes ao atual Distrito. O documento mais antigo encontrado sobre as primeiras povoações na região de Santo Antônio do Rio Verde é de 1786. Tal documento comprova o registro de uma sesmaria na Chapada do São Marcos a Francisco José da Rocha, de Paracatu – MG, o qual já residia na região próxima ao Córrego Agoa Fria, Ribeirão Imbiruçu e o Rio São Marcos, mesmo assim, pouco sabemos sobre o desfecho destes desbravadores em nossa região.

Agora, focando na parte urbana que conhecemos atualmente de Santo Antônio do Rio Verde, é certo que no início da década de 1830, já era um povoado pertencente à Catalão. Sobre os primórdios do surgimento, a tese mais conhecida e aceita é que o povoado atual do Distrito teria surgido entre as décadas de vinte e trinta do século XIX, como ponto de parada e descanso das comitivas de boiadeiros e tropeiros que transladavam gado e mercadorias entre Minas Gerais e Goiás. A pequena expansão do povoado surge, de acordo com afirmativa popular, com a promessa realizada por um senhor, feita ao Santo Antônio de Lisboa; em sua promessa, para se livrar de perseguições da justiça, teria doado um terreno próximo ao Rio São Bento, para a construção de uma igreja e uma comunidade.

Uma outra possibilidade, é relatada no livro NO SERTÃO DO SÃO MARCOS: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE CAMPO ALEGRE DE GOIÁS, em que, já existia antes de 1837, uma antiga Capela chamada Santo Antônio dos Martírios, a mesma ficava próximo à divisa de Minas Gerais com Goiás, território que passou por litígio por muito tempo entre os dois estados e por isso houve o deslocamento do povoado da Capela de Santo Antônio dos Martírios para outra localidade, dando origem a Santo Antônio do Rio Verde. A nova capela teria sido construída entre 1837 e 1899.

Há registro, conforme o blog Historiografia de Catalão (https://historiografiaparacatalao.blogspot.com), da mudança de Coromandel-MG para Santo Antônio do Rio Verde, do casal Manoel da Silveira Machado Jr e Maria Joaquina da Glória, no ano de 1835, sendo mencionado o nascimento de uma filha no Arraial de Santo Antônio do Rio Verde, comprovando a existência do local na década de 1830.

Evidenciar a origem do povoamento no Distrito não é tarefa fácil, mas, certo é que, o Distrito foi criado em 30 de janeiro de 1844 vinculado à Catalão; por volta de 1864 foi construída a Igreja Católica, em adobe, a qual passou por reconstrução de 1948 a 1962, posteriormente, em 2011, construiu-se um novo templo. A data da construção da primeira igreja é contestada, já que no interior da igreja há duas placas, referenciando a data da construção em 1868 e da reconstrução em 1962.

Igreja Católica construída em 1864

 

Existe uma grande lacuna sobre as informações do povoamento do Distrito após a construção da igreja até o final do século XIX, já que ocorreu de forma lenta e com poucos registros na atualidade, algo que instiga os pensamentos de como eram e quem habitava o local, apesar dos vários registros em jornais da época, devido ao grande fluxo de pessoas na região, influenciado pela Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde, criada em 1860, que era a mais rentável de Goiás na época. O fato mais notável do Distrito no século XIX, foi a morte da Caitaninha do Rio Verde em 1890, eternizada inicialmente por Cornélio Ramos, recontada pela população e escritores locais.

  Já no século XX, o marasmo tomou conta do cobiçado Distrito. Com a chegada da ferrovia à Catalão em 1913, houve progresso para a cidade, no entanto, o Distrito retrocedeu com a mudança dos seus principais moradores para Catalão, que estava em pleno vapor, até mesmo o Intendente Municipal eleito em Catalão, João da Veiga Jardim, filho do Administrador da Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde, residia em Santo Antônio Rio Verde, que após ser eleito, mudou-se para Catalão.  A construção de Goiânia e Brasília também deixou sequelas tanto para Catalão quanto para o Distrito, muitos empreendedores e pessoas notáveis mudaram-se para as novas capitais.

O marasmo foi tão grande que Jamil Sebba, saudoso médico e ex-membro da academia Catalana de Letras, nascido em Santo Antônio do Rio Verde em 1913, relata em um das suas crônicas em 1960 a situação de quase abandono que o Distrito se encontrava. O Jornal O Estado de Goyaz faz um breve relato sobre o Distrito que em 1913 tinha cerca de 50 casas e 600 habitantes. Além do próprio povoado, o Distrito tinha em seu território lugarejos tais como: Pilões, Soledade, Emiliano, Faustino Lemos, Sussuarana e Cangalha Batalha.

Observe na imagem abaixo, uma fotografia por volta de 1950, da Rua Gregório Martins Pereira que ilustra quão pouco eram as residências na parte urbana de SARV, em sua maioria de ranchos de palhas e algumas casas em adobe. O local da foto foi o principal núcleo de urbanização do nosso Distrito, ou seja, próximo à Igreja Católica, ao fundo é possível ver uma edificação, provavelmente feita em adobe, que corresponde ao local onde hoje é o Restaurante da Dona Lázara, mesmo não aparecendo na imagem, a igreja Católica estaria na parte direita.

Rua Gregório Martins Pereira, meados de 1950

 

Uma curiosidade que todos temos é a origem do nome do Distrito, mas ao que se sabe, se deu pelo povoamento em torno de uma igreja de Santo Antônio, próximo ao Rio Verde, fato descrito por Jurandyr Pires Ferreira, na Enciclopédia do Municípios Brasileiros (1958), o que causa estranheza, já que o rio mais próximo à igreja é o Rio São Bento e não o Rio Verde. Provavelmente, os primeiros desbravadores de Santo Antônio do Rio Verde eram oriundos de Minas Gerais, os quais necessitavam atravessar o Rio Verde para chegar às terras do Distrito, e assim, utilizavam a referência do Rio Verde para mencionar o local onde hoje está localizado a igreja no Distrito. A principal entrada para o Distrito realmente seria pelo Rio Verde, já que a primeira igreja Católica tinha sua frente voltada para o leste, ou seja, para o Rio Verde e Minas Gerais. A frente das igrejas no passado eram voltadas para a entrada principal de uma cidade ou povoamento, e seus cemitérios aos fundos das igrejas, distanciados da principal entrada. Há de se relatar que posteriormente, na reconstrução, a frente da nova igreja católica foi direcionada para o oeste, referendando a principal entrada oriunda por Catalão. A nova entrada ganhou muita força principalmente a partir da década de 1950 com a construção da ponte sobre o Rio São Marcos em Davinópolis, facilitando o translado entre Santo Antônio do Rio Verde e Catalão.

Enfim, nosso Distrito é cheio de histórias e memórias, muitas delas ainda permeiam a imaginação de seus moradores de forma instigante, no entanto, há a necessidade de aprimorar os fatos verídicos, com o intuito de não criarmos falsas expectativas sobre suas origens.

TEXTO: Alexandre Carlos da Silva Teixeira

 

 

 

 

 

Alexandre Carlos (2025)

 

            Alexandre Carlos da Silva Teixeira é professor Mestre em Matemática, com Graduação em Matemática e Pedagogia, Especialista em Psicopedagogia e Educação Infantil, natural de Ouvidor-GO, reside em Santo Antônio do Rio Verde desde 2005, data em que começou a sua jornada na educação. Em sua carreira docente, além de professor, foi Secretário e Gestor. Fixando residência em Santo Antônio do Rio Verde, constituiu família e um grande vínculo com a comunidade local, sendo educador e líder religioso. Casado, com dois filhos, procura se ater no presente não esquecendo do passado, momentos que servem de inspirações para escrever Crônicas e Poemas.

Em 2023 lançou o livro “Memórias do Passado: Santo Antônio do Rio Verde” sendo coautor e coordenador deste projeto com o objetivo de relembrar as memórias de quase dois séculos do distrito onde reside. Já em 2024, participou do projeto da Academia Catalana de Letras sendo coautor do livro “Catalão: Livro da Comunidade”; no mesmo ano publicou outro livro de crônicas intitulado: “Memórias de um Sonhador” com o objetivo de recordar pequenas histórias vivenciadas em sua infância, adolescência e vida adulta; em 2025 publicou o livro: “Poemas: Vivendo, Sofrendo e Aprendendo”. Participou de antologias poéticas: Pequeno Semear: Antologia de Poeminhas (2024); Por Toda Poesia (2024); Antologia Poética (2024); Irmãos das Letras (2024); Versos Diversos (2025).

No momento, escreve poemas, crônicas e textos sobre a história do Distrito de Santo Antônio do Rio Verde, divulgando o seu trabalho nas redes sociais, almejando no futuro lançar mais outros livros.