


Realizado com recursos da Lei Federal Paulo Gustavo, via Secult Goiás, curta-metragem oferece um retrato íntimo e sincero do Ensino Médio, ampliando o debate sobre temas cruciais como desigualdade e juventude
O curta-metragem goiano “Todos os Sonhos do Mundo”, dirigido por Victor Vinícius e produzido pela Estoriatos Entretenimento, conquistou o júri jovem da 22ª edição do festival italiano Filmare la Storia. O filme, gravado de forma independente por estudantes com seus próprios celulares, conta com recurso financeiro da Lei Federal Paulo Gustavo, operacionalizada pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult).
“Todos os Sonhos do Mundo” foi produzido com a participação de oito estudantes do 3º ano do Ensino Médio de Aparecida de Goiânia – quatro de uma escola pública e quatro de uma escola particular. O curta registra a rotina diária, os dilemas e os sonhos que atravessam essa fase de transição, revelando angústias, esperanças e os abismos que marcam o cotidiano escolar e moldam perspectivas de futuro.
O diretor Victor Vinícius, que também assina o roteiro e a montagem, destaca a identificação dos alunos com o filme: “Quando a gente exibiu o filme nas escolas, percebi que os alunos se identificaram profundamente. Eles entenderam que não estão sozinhos nesse caos que é a transição pós-ensino médio”. A escolha por entregar as filmagens aos próprios estudantes foi uma decisão estética, política e ética, buscando uma verdade que “nenhum enquadramento técnico poderia capturar”, segundo o diretor.
Exibido no festival italiano dedicado a obras audiovisuais com foco em história e sociedade, o filme goiano se destacou por seu valor didático e sua abordagem contemporânea. A premiação foi uma surpresa para o diretor, que vê o reconhecimento internacional como um sinal de que o filme “fala de algo que ultrapassa fronteiras”.
Pelas lentes dos adolescentes
A pluralidade de vozes é um dos pontos fortes do filme. Sara Dheyne, ex-aluna de escola pública, relatou sua experiência inédita com o cinema, mostrando sua vida e a de seus amigos. Já Verônica dos Santos, aluna de escola particular, encontrou no projeto uma forma de se reconectar consigo mesma em meio à luta contra depressão e ansiedade, aprendendo a confiar mais em si e a não ter medo de pedir ajuda.
Ao revelar, sem filtros, o cotidiano de jovens goianos, o curta escancara desigualdades estruturais: de um lado, estudantes que enfrentam a falta de infraestrutura e o desafio de estudar e trabalhar; de outro, adolescentes com acesso a recursos, mas igualmente pressionados por expectativas e adoecimentos emocionais. “O filme mostra que os sonhos existem em todos os lugares, mas nem sempre as condições para realizá-los são as mesmas”, resume Victor Vinícius.
Luz, câmera, educação
O impulso para retratar a educação no filme tem raízes pessoais para Victor Vinícius, filho de professora da rede pública. Ele defende o fortalecimento da estrutura do ensino com base na qualidade e a valorização efetiva da profissão docente.
A construção do filme envolveu visitas a escolas, apresentação da proposta aos alunos e um processo de seleção para garantir a diversidade entre os estudantes escolhidos. Victor Vinícius conduziu encontros presenciais e acompanhamento online para orientar os jovens sobre o uso do celular e técnicas de gravação.
A Estoriatos, produtora do curta, foi criada por Victor Vinícius e Stefanny Pina e, em três anos, já realizou cinco curtas-metragens, além de desenvolver projetos de longas e séries. Entre seus filmes, destacam-se a ficção “Sufoco” e a animação “As cores mágicas”, com seleções em diversos festivais.
Confira o trailer – https://www.youtube.com/watch?v=Sp51ZgvD5Dg&feature=youtu.be