A Fé de Alexandre Guilherme

Sempre me questionam “Por que você dança?”

 

A resposta é sempre a mesma: Não sei!

 

Acredito que a congada veio até “mim”! É como um chamado; um chamado de Maria Mãe de Jesus. Sinto a fé no momento que estou com minha caixa, cantando e dançando por ela.

 

Costumo dizer que quando eu morrer é a primeira pergunta que quero fazer “lá no céu”; “na casa de Deus”; “do outro lado”. A senhora gosta da festa?

 

Aliás, sempre pergunto nos meus momentos de orações, sempre pergunto. A resposta vem em tudo que recebi e recebo dela; minha vida; minha família; amigos; saúde e tudo mais que tenho. Isto é um grande “SIM, eu gosto”!

 

Não sou somente um dançador, sou um apaixonado pela festa (parte religiosa) e a festival também. Sou um religioso também; o sincretismo religioso é grande entre a Festa do Rosário e as religiões africanas, muito fortes no Brasil. Sou católico, então que o bispo da diocese não me entenda mal. Mas, o sincretismo existe sim.

 

Sempre que se fala de Congadas de Catalão, vem a mente a imagem dos ternos com suas roupas coloridas; músicas e batidos das caixas, nada mais lógico. Mas, a festa não é só isso. Tem a parte religiosa e a parte festiva. Quem vive a festa, lembram dos sons, cheiros, sabores, calor humano, fé.

 

Todo catalano sabe que na Alvorada tem o som dos morteiros, um chamado ao início das comemorações, aos terços de manhã, tarde e noite.

 

Quem nunca prestou atenção à cacofonia da Praça do Rosário, dos martelar dos comerciantes, chamado no bom “goianês” de barraqueiros, construindo suas humildes bancas comerciais; onde de um acha-se tudo. Do tom, ao nem tanto, do necessário ao modismo barato, para não dizer alternativo.

 

Quem, dos antigos moradores,  não se lembra do cheiro da folha de buriti cortada ao meio para fazer o telhado do ranchão? E com o fim do martelar, iniciam os gritos na tentativa de conquistar clientes, e como somos um povo criativo, e aproveitando uma característica da língua portuguesa,  onde palavras se tornam de duplo sentido, gritam trovas, versos, como: Moça bonita não paga, mas também não leva! E alguns que não me permito escrever, mas quem quiser ouvir basta passear pelas estreitas ruas da festa.

 

Quem nunca viu a criança com olhar de esperança na frente da máquina de sorvete: “Pai, quero um”! Ou junto ao vendedor de balões “Mãe, me dá aquele”! Eu mesmo já fui uma dessas crianças, e quantos dos meus conterrâneos também não foram.

 

Já os adultos nas ceias, onde não só o sabor os embriaga, mas outras coisas menos religiosas, mas nada que uma confissão e arrependimento não curem.

 

Quem nunca ouviu “Nossa você está sumido, por onde anda”? Pois, é um lugar de reencontros entre amigos, parentes e irmãos de fé.  Na correria do dia a dia, vai ficando difícil um tempo para rever aqueles que prezamos, mas nas ceias, no ranchão, no largo da praça,  nas barraquinhas de pastéis, temos este tempo. Nossa Senhora do Rosário nos dá esse tempo.

 

Aqueles que não mais residem em Catalão, então! São os que mais se esbaldam com esse tempo, tempo de rever, de saber das últimas novidades, de conhecer filhos, netos dos seus conterrâneos. E aquela famosa pergunta novamente no “goianês”, que dia tem Congo? Ah, você dança? Quero ver você! Quantas vezes já ouvi isso.

 

Rever amigos, irmãos de fé, receber aquele abraço fraternal e verdadeiro é bom, mas o melhor é ouvir: Salve o Rosário! E responder Rosário Salve! Ahhhh, isso não tem preço.

 

É como diz a música: “Eu sou da congregação ou da Virgem Maria”!

Eu sou! Sou catalano, congadeiro, sou irmão. Tenho fé, amor, saudade, pois é tudo que a festa de Nossa Senhora do Rosário de Catalão nos dá!

 

Lembrança de muitos anos, de quem já ouviu o sino da igreja, andou por todas as ruas das barraquinhas, que já ganhou um ioiô e que abriu para jogar pó de mico nos colegas de escola; que já pulou o trem de ferro, que viu os congos, que dança na congada, que cresceu, virou conselheiro, que chora na entrega da coroa, que se emociona nos ensaios. Quem tem esperança da festa nunca acabar, pois tem crianças de 0 à 100 anos participando. Que comeu churrasco grego e sobreviveu para repetir a dose no outro ano; que viu a torre da igreja cair, ser reformada e tombada pelo patrimônio histórico. Que dançou com uma criança que hoje é pai, mãe e até avó ou avó.

Que perdeu amigos, estes foram dançar no céu com Maria, nossa mãe, mas que recebeu novos companheiros de fé.

 

Sofri, chorei, perdi, ganhei, duvidei, arrependi, mas no fim, nunca perdi a fé.

Este sou eu, um catalano, goiano, brasileiro misturado em um caldeirão de etnias.

Sou branco, sou negro, sou mulato, português. Isso também não importa, pois sou filho de Nossa Senhora do Rosário; Maria Mãe de Jesus; Maria Santíssima.

 

Alexandre Guilherme Melo Martins

Nascimento: 11 de maio de 1967, Catalão, Goiás

Falecimento: 25 de agosto de 2022, Catalão, Goiás

 

Alexandre e o general da época Cleiber Francisco

Alexandre e Miguel no momento de descanso

Alexandre e o festeiro da época, Velomar Rios

Alexandre…..

Capitão Tonico e Alexandre

Alexandre com Bianca e Bruna

Bárbara (filha de Alexandre) e Luíza (neta de Alexandre)

Alexandre e Lazaro – Capitão Vilão

Alexandre e Nando

Alexandre e Sandra

A Família Blog da Maysa Abrão agradece aos familiares de Alexandre pela confiança em nos ceder esses arquivos maravilhosos e registra aqui nossa singela homenagem para aquele que foi um grande amigo e parceiro do nosso trabalho. Descanse em paz amigo!