A POSSE DO PREFEITO PAULO HUMMEL

Paulo Hummel era um pequeno e ativo agricultor. Na fazenda que herdou de João Hummel, seu pai, cultivava hortaliças, cana-de-açúcar e bananas.Tinha também um rebanho de gado de cria e uma olaria e, além disso, fornecia pedra e areia para a construção civil. Na entressafra, ainda fazia fretes com seus caminhões.
Foi eleito Vice-Prefeito de Catalão nas eleições de 1960 e assumiu a Prefeitura em julho de 1964, pouco após o golpe de 31 de março do mesmo ano. Por três vezes foi preso pelos militares, antes da posse. Apesar de ser logo liberado, sofreu torturas e humilhações, em investigações que buscavam indícios de envolvimento em atividades subversivas, por conta de filiação ao PTN, partido da base do governo de João Goulart, além de românticas e inconsequentes participações em entidades de esquerda, quando mais jovem.
Na última prisão, feita enquanto almoçava em sua residência, foi levado até a sede dos Correios em Catalão, ocupada por um grupo de militares, onde um Oficial do Exército, de arma em punho, apresentou-lhe uma carta, endereçada à Câmara Municipal de Catalão, por intermédio da qual ele renunciava ao cargo de Vice-Prefeito. Por recusar-se a firmar o documento, levou uma coronhada na boca e pessoas que assistiam o episódio pelas janelas do estabelecimento testemunharam a luta corporal que se estabeleceu entre ele e o covarde Capitão, que na confusão perdeu a pistola.
Após conseguir desvencilhar-se dos militares, com a ajuda de João Netto de Campos (um dos que espiavam o entrevero pelas janelas), Paulo Hummel se dirigiu à Câmara Municipal e tomou posse como Prefeito de Catalão, em 03/07/1964, certamente ainda com alguns cacos de dentes em sua boca.
O cargo havia sido declarado vago após o parlamento catalano ter decidido pelo afastamento do Prefeito Osark Vieira Leite e agendado a posse do Vice para aquela data.
O surgimento dos militares em Catalão não foi uma simples coincidência. Foi claramente tramada pela oposição local, que tinha um bom relacionamento com o quartel em Ipameri e desejava que a Prefeitura fosse ocupada pelo Presidente da Câmara Municipal.
Muitas foram as intrigas e armadilhas para que Paulo Hummel malograsse e não realizasse a sua histórica gestão. O novo Prefeito encontrou um quadro financeiro caótico, com a municipalidade endividada, sem nenhum dinheiro em caixa e detentora de uma arrecadação irrisória. Politicamente, teve de administrar Catalão com uma Câmara hostil e retrógrada e conviver com a oposição do Governo Estadual, com o governador Mauro Borges se recusando sequer a recebê-lo. Após a cassação do Governador, um General assumiu o cargo…
O Brasil estava dividido, vivendo um periodo político dificílimo, enquanto Catalão passava por uma de suas fases mais decadentes. Além do êxodo populacional ocorrido após o surgimento de Goiânia, a fundação de Brasília, em 1960, também atraía grandes contingentes do nosso povo.
Teve de lidar também com muitas traições e outros tipos de mau-caratismo. Como o caso de um importante vereador que, insatisfeito com a promissora administração de Paulo Hummel, enviou uma carta diretamente ao Marechal Castelo Branco, primeiro Presidente da ditadura, solicitando a cassação do mandato do prefeito, sob a acusação de que se tratava de um comunista. Vereador que, posteriormente, passou a se posar de adversário da ditadura.
Para a infelicidade do vereador dedo-duro, sua correspondência foi distribuída a um assessor presidencial que conhecia Paulo Hummel, por ter uma fazenda num município próximo a Catalão. Ele simplesmente arquivou a acusação, por falta de provas. Em respeito a pedido feito à época pelo assessor presidencial, já falecido, omito o nome desse vereador.
Mas o jovem, destemido e dinâmico PH, com apenas 38 anos, foi em frente e marcou o seu tempo. Arrancou Catalão do marasmo e mostrou que era possível avançar, mesmo com recursos escassos. Implantou o calçamento com bloquetes no centro da cidade, iniciou a rede de esgoto sanitário local, expandiu a incipiente rede de abastecimento de água tratada, aterrou o Esbarrancado (imensa erosão que existia em pleno centro de Catalão), construiu 14 grupos escolares rurais, fez 5 praças, recuperou todas as estradas vicinais. E, mais relevante ainda, elevou a autoestima da população e a cidade nunca mais foi a mesma.
Como isso foi possível? No seu livro O Eco do Passado, ele registrou: “trabalhando com honestidade, seriedade e competência. Assim agindo, o orçamento público rende e frutifica, ao contrário do que se vê hoje em nosso pais, onde a corrupção se alastrou e não há dinheiro que chegue.”
Deixou a Prefeitura pobre e nunca pleiteou indenização por danos sofridos durante a ditadura, como tantos fizeram.

 

Por Paulo Hummel Jr