Catalão 162 anos – Sou Menina Catalana

Uno meus versos a narrativa para
buscar lembranças da minha MENINICE.
Trago na bagagem o perfume das flores da casa da minha infância querida. Caminhei por entre o morro, o córrego Pirapitinga, as praças, …na história de cada personagem. Abracei esse universo de paz e me tornei criança e anjo.
SOU MENINA CATALANA
Das ladeiras, das ruas sem asfalto, dos poucos carros nas ruas, dos quintais imensos onde passávamos a maior parte do tempo inventando brincadeiras.
De vender pirulitos e pipocas que a mamãe fazia, nas ruas da cidade. De pedir a benção quando chegava e quando ia embora.
De noitinha reunia com as crianças e escondíamos cobras de mentirinha para assustar transeuntes, que pela rua passavam.
SOU MENINA CATALANA
Do tempo das pinguelas de madeira sobre o Ribeirão pirapitinga unindo uma parte a outra da cidade.
Do andar pelos trilhos de mãos dadas com meu pai aprendendo sobre os astros.
Do fazer piquenique em família nos finais de semana nos riachos ou ribeirão.
Das refeições serem sagradas, em volta da mesa, onde todos da família se reuniam para o desjejum. Existia união, respeito… Todos tínhamos obrigações e horários a serem cumpridos.
SOU MENINA CATALANA
Das festas de ranchão.
Das procissões organizadas pela igreja Católica com a ajuda dos paroquianos.
Do Colégio Centenário: Nossa Senhora Mãe de Deus, dirigido pelas irmãs Agostiniana.
Escola Paroquial São Bernardino de Siena e com ela a primeira Rádio local: Rádio Cultura de Catalão. Dirigidos pelos Frades
Franciscanos. Escola em que fui alfabetizada. Na Rádio Cultura participava das novelas que eram produzidas em seus estúdios, as quais paravam a cidade e enchiam de dramaturgia às manhãs Catalanas.
Dos doces caseiros, das hortaliças e árvores frutíferas, nos quintais.
Das benzedeiras e parteiras que oravam pelas crianças.
Do Dr. Edson Fayad que atendia nos domicílios
fazendo partos e salvando vidas.
SOU MENINA CATALANA
Do fogão a lenha, de escutar no rádio a hora do Brasil.
Do café sobre a mesa com quitandas caseiras. Local de reunião das famílias e amigos para o lanche da tarde.
Da política, onde candidatos faziam comícios nos ranchos de palha, construídos para o evento e em enormes tachos confeccionavam pelotas, mandiocas, entre outros para servirem aos seus eleitores.
Dos broquetes ilustrados com PH, iniciais do Prefeito da época Paulo Humel.
Dos encontros a noitinha na casa dos avós,
onde sentados na calçada, ouvíamos contos,
histórias, relatos …de suas vidas passadas.
SOU MENINA CATALANA
Das tradições, dos versos lavrados, das serestas e serenatas ao luar.
Do cinema onde passavam os filmes de maior
sucessos. Local onde pude aprender a trabalhar e ter responsabilidade, com apenas 11 anos, cuidando da bomboniere para meu pai terminar seus estudos.
Do salão do CRAC, dos circos, das viagens de trem de ferro, do glamour dos desfiles cívicos, onde tinha orgulho de desfilar para minha escola.
De caminhar apé com um grupo de pessoas em oração, até o morrinho da saudade, com jarra de água, fazendo clemência a Deus por chuvas, colocando a água aos pés da cruz.
SOU MENINA CATALANA
Do tempo que não existia depressão psicológica, informática, luxo, TV…mas existiam simplicidade, doçura, amor e aconchego.
Quem me dera pudesse exaltar a felicidade das miudezas da minha meninice, às crianças de hoje. Onde respirava liberdade de poder voar
com as andorinhas de manhã e voltar a tardinha nos braços da minha mãezinha!
Ah! Minha Terra querida, quantos sonhos vividos partilhados no seu chão, que hoje o vento da modernidade os empurra para longe. Analiso com meus olhos de antes ao contemplar os olhos de hoje. Minha Catalão, não foi só eu que estou passando pelo tempo, mas a sua história fica
registrada no tempo, há exatamente 299 anos de vida histórica e nesse ano completará 162 anos de emancipação política. Somos um povo de glórias, lutas, marcas, violências, grandes personagens … e de um povo que faz a sua história acontecer. Mas, somos, também, uma Terra Altiva de encantos, que viverá na lembrança de outros, pois és a minha, a nossa “Atenas de Goiás”!
__Cida Nesralla