Catalão – Cultura, Violência e Progresso

Se contar os tempos de vila, de arraial, de povoado e de sítio, Catalão está beirando três séculos de existência. Se não é a mais velha, com certeza uma das mais antigas localidades de Goiás.
O minúsculo povoado, desde sua fundação, foi se espraiando à beira do córrego Pirapitinga, formando uma sociedade particular e muito específica, diferente das outras localidades de Goiás. Catalão ganhou fama e notoriedade em torno de três características fundamentais: cultura, violência e progresso.
Em termos de cultura, a cidade sempre se destacou. Tanto que, em 1910 já havia recebido o título de “Atenas de Goiás”, conferido pelo Anuário Histórico Geográfico e Descritivo, que trouxe uma enquete cultural envolvendo comparativamente os municípios do estado. Mesmo antes, no século XIX, a passagem dos escritores Bernardo Guimarães e Fagundes Varella por aqui, colocaram Catalão no centro de curiosidade e interesse nacional. O próprio Bernardo Guimarães escrevia na revista Atualidade do Rio de Janeiro, sobre Catalão, como “longínqua cidadezinha do sertão goiano”. Além do que, pelo menos dois de seus primeiros romances se passaram em nossa região.
Hoje, podem -se divisar nitidamente três gerações de intelectuais em Catalão. Na primeira, Ricardo Paranhos, Gastão de Deus, Roque Alves de Azevedo, Davi Persicano, Randolfo Campos e Alceu Victor Rodrigues formaram a Arcadia Catalana, desde o início do século passado.
Depois, na década de 1950, entraram em cena Aguinaldo Campos Neto, Frederico Campos, Wagner Estelita, Monsenhor Primo, Cornélio Ramos, Júlio de Melo, Jamil Sebba, Antonio Chaud e Maria das Dores Campos, entre outros.
Atualmente, a geração de intelectuais catalanos encontra-se espalhada nas instituições educacionais, em função da admirável ampliação do número de escolas, colégios, instituto e e faculdades no município. Tradicionalmente a guardiã da produção literária municipal continua sendo a Academia Catalana de Letras.
A segunda característica histórica de Catalão é a violência. Aqui, a ordem e a segurança institucionais foram gradativamente impostas pela força. Tanto que a cidade ainda não conseguiu apagar inteiramente a sua tradicional fama de violenta no contexto estadual.
Os pesquisadores geralmente encontram, no mínimo, quatro modalidades diferentes de violência na memória de Catalão. Primeiro, a violência tradicional dos coronéis e seus jagunços, à maneira do que ocorria em todo o Brasil. Só que, em Catalão, não haviam exatamente republicanos e democratas, mas partidários das caravanas “papo roxo” e “papo amarelo”.
Ou seja, não eram as ideologias que comandavam a luta política e sim a luta que definia as ideologias. Foram vários embates sangrentos de ódio e de vingança que vitimaram irremediavelmente alguns troncos de famílias catalanas.
Como a cidade era um “cotovelo” de difícil acesso e terra de fronteira, facilitou também a formação de bandos de foragidos que vitimaram centenas de pessoas de forma gratuita ou encomendada. Basta rever os casos do bando do Indio Afonso, da Caetaninha do Rio Verde e de outros que assolaram essa região do Paranaíba.
Como se não bastasse, individualmente também surgiam em Catalão valentões de diversas partes do país, que aqui ficavam, resguardados pela coragem e pela força das armas, chegando alguns a ser intendentes do município, até mesmo morrendo assassinados. A lista de tiroteios e de estripamentos é longa e inacreditável.
De resto, havia ainda uma violência cotidiana, entre o grosso da população, de uma brutalidade inimaginável. Ninguém levava desaforos para casa. O que, de certa forma, é compreensível em função da ignorância da maioria dos habitantes, onde quase ninguém sabia ler ou escrever. Alguns relatos antigos teimam em dizer que, difícil o dia em que ninguém era assassinado em Catalão. Uma informação, sem dúvida, exagerada. Tempos marcantes, mas que se foram definitivamente.
A terceira característica de Catalão se encontra no rápido desenvolvimento econômico do município. Foram diversas fases de crescimento até alcançar o nível de progresso atual.
No século XIX, o sustento dos moradores vinha da pecuária tradicional e das lavouras de subsistência. A maioria absoluta da população de Catalão ainda residia na zona rural. No início do século passado, com a vinda dos imigrantes estrangeiros, aconteceu um surto de diversificação comercial e proliferação de agroindústrias na área urbana.
A cidade se expandiu em função da indústria de carnes e derivados, além do beneficiamento de grãos. Despontaram fábricas de artefatos de couro, de manteiga, de bebidas e mesmo uma usina para produção de açúcar cristal e álcool combustível. Enquanto Goiânia e Brasília não existiam, a cidade mais industrializada do estado de Goiás era Catalão.
No último quartel do século passado, o cenário econômico se alterou com o início da exploração mineral em Catalão. Fosfato, nióbio e terras raras proporcionaram novos investimentos no comércio e no setor imobiliário da cidade. Os jovens vestiram brilhosos uniformes das mineradoras e a paisagem urbana se transformou.
Na virada do milênio, a indústria metal-mecânica inaugurou a montagem de veículos automotores no distrito minero-químico de Catalão, aumentando o número de empreendimentos e a arrecadação municipal.
Ainda, em termos de economia, a microrregião de Catalão passou a usufruir de fatia relevante do agronegócio estadual. As terras circunvizinhas respondem positivamente aos grandes investimentos que estão sendo feitos, principalmente no setor de grãos.
FOTO: Municípios da microrregião de Catalão
FOTO: Localização do município de Catalão no Estado de Goiás.
 
FOTO: Morrinho de São João. Símbolo afetivo de Catalão.
FOTO: Bandeira e brasão de Catalão
Luís Estevam
(Da Academia Catalana de Letras)