Congadas, moçambiques e catupés de Araguari, Minas Gerais

Nos Meados do século passado, com os costumes discriminatórios gerados pelo sistema escravagista brasileiro, brancos e negros não frequentavam as mesmas Igrejas, o que levou estes, onde houvesse catequese escrava, a construírem seus próprios templos. A Igreja do Rosário tem sua história iniciada nesse período: a Capelinha do Largo era frequentada pelos negros, de cuja tradição a paróquia até hoje mantém as congadas na célebre festas de Nossa Senhora do Rosário.

A capelinha do Rosário durou cerca de 90 anos. Em 1954, foi demolida para dar lugar à nova construção que hoje conhecemos. E assim, por volta de 1915, foi instituída na Igreja do Rosário, no alto do morro que tem a frente voltada para a Igreja da Matriz, as primeiras manifestações em louvor e graça a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.

É uma festa de devoção, um ritual sagrado, que festeja a vida, embora o leigo a ela se associe com grande força. O registro mais antigo da ocorrência de Congos, em nosso Estado, é de André João Antonil, que aqui esteve de 1705 a 1706.

A Congada tem uma grande conotação religiosa. A participação da Igreja nas festividades é de apoio tático. O interesse pela devoção cresceu bastante, alargou-se no espaço e no tempo, ganhando devotos em quase todos os lugares.

A fraternidade de Nossa Senhora do Rosário e dos santos pretos, entre os quais São Benedito e Santa Efigênia, é constituída, em Minas Gerais, por guardas como: Moçambique, Congo, Marujos, Catupés, Caboclinhos e outros. Segundo a tradição, todas as guardas surgiram da religião tradicional africana, sendo o Congo a mais velha, seguindo das guardas de Moçambiquee, de Marujos e outras.

A guarda, terno ou batalhão é uma unidade religiosa ou grupo autônomo, com denominação particular, estandarte, aspectos rítmicos, plásticos e funcionais.

O reisado tem, como enredo, o encontro do rei cristão com o rei Mouro. Tudo inicia quando o enviado rei Mouro, após uma discussão, mata o príncipe, sendo, mais tarde, levado preso até o Rei Cristão.

Enquanto isso, um feiticeiro se incumbe de ressuscitar o Príncipe, ao mesmo tempo em que, durante uma longa conversa, o enviando Mouro convence o Rei de que não é seu amigo. Ao transportar a fronteira de seu reino, queria apenas, segundo as ordens do Rei Mouro, festejar Nossa Senhora do Rosário.

Feitas as pazes, saem cantando juntos:

“Viva Maria

Tão Singular

Com seu rosarinho

Pra nos salvar”

No reisado, os dançadores se dividem em alas, os Reis são um casal de Nossa Senhora do Rosário e um casal de São Benedito (quando são realizadas conjuntamente), vêm com a família real (Moçambique), seguidos dos Congos e Catupés. A parte principal e mais emocionante do reisado é a Embaixada, quando o enviado do rei Mouro vai ao encontro do Rei Cristão.

A história da Congada, em Araguari, data da década de 30, quando surgiu os dois primeiros ternos: O Moçambique e o Congo Verde. Hoje, a Festa do Rosário possui algumas reminiscências, como peregrinação pelas ruas da cidade, cantando e dançando, ora carregando a imagem de Nossa Senhora do Rosário, ora o seu estandarte.

A fé expressada através da dança e da música, faz-se resgatar esta festa tão importante de nossa história, certamente uma das mais belas, rica e espontânea manifestação folclórica de nossa gente.

Hoje estão em plena atividade no município 15 ternos que fazem parte da Associação Promocional de Congados, Moçambiques e Catupés. Os ternos reconhecidos pela Associação são: Moçambique Branco, Moçambique Sainha Azul, Moçambique de Angola, Moçambique Dourado, Congo Verde, Congo de Ouro, Congo Santa Isabel, Congo Nossa Senhora da Guia, Congo Azul, Congo Marinheiro, Congo 13 de Maio, Congo Branco, Congo de Angola, Congo Prata e Catupé Cacunda.

Apresentamos aqui no Anuário Artístico-Cultural algumas imagens fotografadas por Miquéias Madalena no ano de 2007 expostas na Casa da Cultura “Abadla Mameri” no mês da Consciência Negra. As imagens constituem um painel da diversidade de expressões coreográfico-dramático-musicais e processionais que existem nessas festas de tradição afro-descendente.

História de alguns ternos de Araguari:

MOÇAMBIQUE
Fundado em 1928, por Sebastião Ferreira Braga, passou por vários comandos, destacando-se a família Gerônimo que, durante anos, teve sob sua responsabilidade, o Terno. Atualmente, tem como presidente João Batista da Silva.Ao Moçambique cabe a guarda dos reis, sendo, portanto, considerados a corte do reisado.
São os primeiros a entrar na Igreja e os últimos a sair.Suas vestimentas são brancas, atualmente conta com cerca de 100 componentes.

CONGO VERDE
Fundado na década de 30, por Teodolino Domingos Rodrigues e Matilde Gomes Machado; o primeiro capitão do Terno foi Geraldo Pires Neto. No ano 1978. o Terno passou para a responsabilidade do Sr. José Silvestre dos Santos (Carrero) que responde, até hoje, pelo cargo de comandante do terno, e, como primeiro Capitão, o Sr. José Gonçalves Machado. O Terno tem participado de todas as festas, como tem se deslocado para outras cidades da região, para participar de festas religiosas. Com cerca de 80 dançadores sua sede está situada na Praça 13 de Maio. Suas cores são: o verde, rosa e branco.

CONGO OURO
Edson Batista dos Santos, desde criança, dançava em Ternos de Congo, até que, no ano de 1963, resolve fundar um grupo, que passou a denominar-se Congo de Ouro. No início, contava com cerca de 23 pessoas, número que, com o passar dos anos, foi aumentando e, hoje conta com cerca de 90 pessoas. O cargo de capitão é ocupado por Edson B. dos Santos (Batata), desde a sua fundação. Suas cores são: o amarelo e branco. Com mais de 30 anos de existência, nunca ficou sem participar da festa,em nossa cidade.

CATUPÉ CANCUNDÊ
Vindo residir em Araguari, o Sr. Francisco Valentim, após presenciar a festa, no ano de 1979, organiza um Terno a que deu o nome de Catupé Cacundê. Na época, o presidente a Associação Religiosa Nossa Senhora do Rosário era Antônio Batista Camargo, que muito apoiou o novo grupo. A Fundação deste Terno foi motivada por já existirem, em Araguari, o Congo e o Moçambique, e nenhum Terno de Catupé. O estilo de dança é diferente, com gingado da capoeira e valseado, e os versos do canto, também, são característicos.
Enquanto o Congo é pulado o Moçambique sapateado. Hoje, o Terno de Catupé contêm cerca de 40 pessoas. O primeiro capitão é o seu fundador Francisco Valentim (Sr. Chico). Suas cores são: o azul e o branco.

FONTE: http://www.cidadearaguari.com.br/congadas-mocambiques-e-catuapes/

 

O Blog da Maysa Abrão esteve presente na Festa de Nossa Senhora do Rosário de Araguari, Minas Gerais em 2018 e registramos alguns momentos. Confira: 

http://www.maysabrao.com.br/galeria/blog-da-maysa-abrao-na-festa-de-congados-de-araguari-2018-galeria-1-sabado/

http://www.maysabrao.com.br/galeria/blog-da-maysa-abrao-na-festa-de-congados-de-araguari-2018-galeria-2-domingo/

http://www.maysabrao.com.br/galeria/blog-da-maysa-abrao-na-festa-de-congados-de-araguari-2018-galeria-3-domingo/

http://www.maysabrao.com.br/galeria/blog-da-maysa-abrao-na-festa-de-congados-de-araguari-2018-galeria-4-domingo/