Memórias de um Peregrino – SÓ NÃO CONTO PRA MIM MESMO

Ainda na subida da serra, detive-me também sobre os conflitos interpessoais, muitas vezes decorrentes de uma equivocada visão das relações:
Se identifico nos outros somente o que também tenho, por que tanto me preocupam os defeitos dos demais?
Tenho poucos amigos ou não sou amistoso?
Afastam-se de mim ou os espanto?
Conspiram contra mim ou sou inseguro?
São infiéis ou os marginalizados?
Compartilho ou escondo?
Isolam-me ou os isolo?
Sou agredido ou agressivo?
Não me dão voz ou me omito?
Coopero ou conspiro?
Apoio ou finjo?
Ajudo ou humilho?
Sigo ou persigo?
Solidarizo-me ou sou oportunista?
Desejo ou invejo?
Espero ou espreito?
Por intermédio de nossas posturas, nos apresentamos aos demais. São os nossos cartões de visita. Por meio dos nossos atos, mostramos aos outros as virtudes e os nossos pequeninos grandes defeitos de caráter. Condutas que, no dia-a-dia, nem sempre percebemos, apesar de permearam nossas ações. Atitudes que revelam aos demais, claramente, nossa personalidade, a nossa maneira de ser. Escancaram os porões da nossa alma. Segredos que escondemos somente de nós mesmos, muitas vezes.
Todavia, nem todos nos vêem da mesma forma, pois cada um nos vê do seu próprio nível de consciência. Como também nos vemos de maneira distorcida, geralmente. É possível aprender a ver o mundo como ele verdadeiramente é, contudo, poucos se interessam por isso. A maioria prefere seguir pela vida cultivando o seu personagem.
O apego, quando aplicado às nossas convicções, crenças e hábitos, dificulta demasiadamente os nossos relacionamentos, ao restringir e até mesmo impedir o espaço para o outro.Tal atitude nos angústia, pois conflita com as nossas carências, com a necessidade humana de se relacionar, em todos os aspectos.Tolhe e até mesmo inviabiliza a convivência afetiva, o estabelecimento de uma relação que some e compartilhe, na qual as diferenças possam ser discutidas e utilizadas como um apoio ao crescimento e não como um obstáculo intransponível ou inaceitável.
Essas reflexões, tão simples e verdadeiras, o dia-a-dia dificilmente me permitiria fazer, de forma tão clara. Delas nunca mais me afastei e pretendo cultivá-las enquanto viver.
FONTE: Extrato do livro Memórias de um Peregrino, de Paulo Hummel Jr