O casal de festeiros da 112ª Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário do Catalão – Haley Margon Vaz e Joana Gomides Margon

Ex-deputado e ex-prefeito de Catalão Haley Margon Vaz e sua esposa Joana Gomides Margon, carinhosamente chamada por todos de Dona Joaninha, foram os festeiros da 112ª Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário. Casados desde 1955, os pais de Letícia Gomides, Halley Margon Vaz Junior e Ricardo Gomides realizaram em 1988 uma das mais belas festas já realizadas até os dias atuais. Haley conta que sua festa aconteceu em uma época em que as barracas eram poucas, porém a fé e a devoção já perduravam por centenas de anos. “Minha querida e saudosa mãe, Matilde Margon Vaz foi festeira juntamente com o senhor “Rola”, o saudoso Aguiar de Paula na década de 40. Naquela época não existia as barraquinhas e a festa era marcada pela fé de muitos devotos de Nossa Senhora do Rosário”. Ao relembrar o ano de 1988, Margon acrescenta que foi uma festa perfeita como todas as outras realizadas com sucesso. “Gostei muito de ter feito a festa, pois recordo de amigos queridos que ali estiveram entre nós e que hoje não estão mais. Posso dizer que tanto para mim, quanto para a Joaninha, bem como para nossos amigos e familiares, foi gratificante poder doar aqueles momentos de nossas vidas a Nossa Senhora do Rosário e oferecer uma bela festa à comunidade catalana”, finaliza o ex festeiro.

 

 

 

 

Fuga dos Barraqueiros

Realizada com o tradicional sucesso de publico dos anos anteriores, a ultima versão da Festa do Rosário, no entanto, teve um pouco de seu brilho empanado pela ausência de dois personagens que já fazem parte da sua paisagem de todos os anos: os barraqueiros compareceram em menor número, depois de terem saído, no ano passado, reclamando do “terror fiscal” contra sua atividade, e o parque de diversões que sempre fez a festa da garotada simplesmente não compareceu, após ter reclamado na sua ultima aparição do alto preço do terreno.

Mas, justiça seja feita, a parte festiva e as famosas congadas de Catalão asseguraram o brilho do evento.

 

 

 

112ª Festa do Rosário – A tradição comprovada

A tradição mais uma vez se comprova, o negro veste sua roupa até um pouco santa e vai ao encontro de Nossa Senhora do Rosário. Sua emoção é indescritível, seu ímpeto em bater as caixas se confunde com o estourar dos foguetes que acordam a população. Bom dia cidade! Começou mais uma festa do Rosário, é hora de largar um pouco a televisão, o jornal e o rádio, é hora de voltar à praça e poder admirar o quanto é bonito a energia daqueles que acreditam na Virgem do Rosário. Os foguetes colorindo o céu demonstram  que não existe diferença entre o dia e a noite, a mesma força no bater das caixas desde o primeiro ao último dia de festa, mostram bem de perto que os congos são incansáveis, vale mais a fé e a dedicação do que o próprio esforço físico. Pequenas crianças carregam consigo o grande dinamismo em acompanhar a procissão, sejam vestidos de anjos ou no colo das mães devotas. Os homens vão tirando os seus chapéus em sinal de respeito à imagem. Antecedido de vários ternos de congos, os festeiros carregam a coroa da santa e a população assiste emocionada o mito da congada.

– Elias Democh –

 

Tradição e cultura, os congos vão à rua

Alvorada, procissão e muita garra nas batidas das caixas, o negro se realiza e adora sua protetora Nossa Senhora do Rosário. A esperança de viver para mais uma festa foi concretizada. O rei, rainha, príncipes e generais vão buscar a coroa bem guardada pelos festeiros, dá-se inicio a uma caminhada, onde o objetivo único é preservar e guardar o singelo símbolo da festa. O andor já esta ornamentado, dicas de devoções inspiram o lado criativo do artista em ornamentar seus ideais voltados a um único objetivo, agradecer a virgem por uma graça alcançada.

Nem bem amanhecia o dia 30 de setembro, Catalão foi acordada pelos fortes rojões que pareciam querer dizer que chegava mais uma festa de Nossa Senhora do Rosário. Em poucos minutos, a praça estava repleta de gente de todas as classes, níveis, idades e cores. Os dançadores de congo mostravam o seu lado de raça, de fantasia, de alegria em poder levar à santa, um pouco de conquista obtida durante um ano. Em todos os dias da festa, os devotos agradecem à santa pelas graças obtidas e fazem mais um pedido afim de encontrarem a concreta realização e inspirados pela magia cativante da santa, os festeiros organizam a diversão. A cena se repete assim por 112 anos.

Domingo, ao amanhecer do dia, o encontro entre os congos e os festeiros a energia vibrante do ritual se depara com a certeza de um sucesso. No despertar é oferecido um café no interior do ranchão servido ao som forte e vibrante de novas caixas que se aproximam. São quinze ternos participando da festa, quinze diferentes cantos movidos por uma única energia.

Como recompensa, os festeiros oferecem aos ternos, um almoço de confraternização e entrosamento, o palco agora é a creche São Francisco que representa a grande massa dos devotos da festa.

Amanhecendo a segunda-feira, ultimo dia de festa, a tristeza já toma conta dos devotos por ter de esperar mais um ano a nova festa. A entrega da coroa é feita, os festeiros novos Orcalino Bertoldo, seus pais Mariinha e Sebastião recebem emocionados a coroa das mãos de Haley e Joaninha. A festa deste ano foi tão bonita que emocionou a todos os presentes, emocionado também, o festeiro novo, Orcalino, agradeceu a oportunidade oferecida pela irmandade e espera corresponder a todas as expectativas, contando é claro com o apoio de sua comissão. Após isso os congos se dispersam e fica somente na esperança de que o ano que vem seja ainda mais promissor com relação a festa de Nossa Senhora do Rosário.

 

 

Em meio a animação dos congos a crença e devoção à santa

A cada ano se fortalece ainda mais o cenário religioso da Festa do Rosário, este ano, porém era visível que as pessoas devotas à santa participaram mais ativamente da festa, fazendo a igreja ficar pequena perante a multidão que queria ver a imagem da santa e a ela pedir algum feito ou agradecer alguma graça alcançada.

Durante a festa todos os dias, eram rezados terços à santa, acompanhado de musicas sacras que bem entoadas pelos devotos, parecia um clamor alegre. Pela tradição e costume da festa, foi erguida a bandeira à santa, sábado dia 8, sob o batido forte das caixas de ternos de congos. A sequencia da festa foi feita com a procissão da coroa carregada pela festeira deste ano, Sra. Joana Gomide e seu esposo Sr. Haley Margon Vaz. Pelas ruas da cidade foi montado um cortejo em direção à igreja de Nossa Senhora do Rosário. Acompanhados pelos congos e pelas pessoas devotas à santa, em cada local que passava o cortejo, era visível a emoção da população que adorava a coroa, símbolo religioso da festa. No encerramento do cortejo já na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, foi celebrada uma missa ao ar livre, acompanhada de muita fé pelos presentes. Neste momento a praça ficou tomada de pessoas e era geral o silencio apesar de haver muita movimentação nas barracas vizinhas.

Os congos em um por um, iam adentrando a igreja e realizando o ritual já antigo junto ao altar ricamente decorado pelo festeiro de 1989, o jovem Orcalino Bertoldo de Almeida que há 19 anos, sem exceção de ano algum, faz esse trabalho. Junto com a coroa, o cortejo levava consigo o andor com a imagem da santa, preparado pelo secretário da cultura e um apaixonado pela festa, Edson Democh. Na procissão, mulheres carregavam consigo crianças vestidas de anjos, representando a pureza de quem conseguiu uma graça junto a Nossa Senhora do Rosário. Outras levavam às mãos velas em sinal de agradecimento ou mesmo fazendo um pedido a mesma santa. Envolvidos entre orações silenciosas, todos os devotos caminhavam pelas ruas tendo cada um o seu próprio motivo de estar presente ali naquela festa.

Uma coisa ficou marcada como decepcionante nesta tradição antiga de nossa cidade. Entre um motivo ou outro apresentado por aqueles que viviam o ritual do evento, existiam aqueles que procuravam conquistar o espaço todo e apagar até mesmo a parte religiosa da festa. O que aconteceu nos dez dias de festa, é lamentável, mesmo porque esta festa existe por ser religiosa e não por outros motivos que não possam sustenta-la viva e bonita, como ela sempre foi. Ainda bem que as pessoas que tentaram impedir só querem aparecer entre quatro ou seis anos, eles ainda são muito pequenos perante a grande força que é a congada de nossa cidade.

O dinamismo de devotos mais uma vez se fez presente na festa do Rosário de Catalão, uma festa que é marcada sobre tudo pela desenvoltura e vibração de fieis, pela garra e força dos congos, pelo dinamismo e vontade dos festeiros e mais do que isso, pela valorização e reconhecimento do povo catalano, que assim continue, pedimos a Nossa Senhora do Rosário.

Em meio à multidão, a juventude se diverte

Durante dez dias consecutivos, o barzinho deu lugar a praça, as lanchonetes deram lugar as barracas que ofereciam também uma opção alegre e descontraída àqueles que queriam diversificar  um pouco seus programas noturnos em nossa cidade.

A irmandade através do seu festeiro deste ano, como já de costume, montou o Ranchão, conhecido pela sociedade catalana como sendo um ponto de encontro geral. Neste Ranchão, ricamente decorado pela equipe da Casa da Cultura, liderada pelo seu secretário Edson Democh, contava com bandeiras feitas em pano aplicado, um sobre o outro, formando desenhos coloridos. Neste Ranchão, além de serem servidas quatro deliciosas ceias, com um detalhe especial para a ultima, dia 10, pelos professores, contava também com a alegre participação da comissão da festa que fazia questão de ir mesa por mesa atendendo pedidos e deixando um conforto incomparável.

Além do Ranchão, existia também vários “pontos de encontro” como os de Luís, que encheu a rua com mesas e atendia bem seus fregueses oferecendo desde uma cerveja gelada até diversos tira-gostos. Outros ponto de encontro que recebia um grande numero de boêmios, era o de Deusmar que apresentava a cada dia atrações musicais que envolvia muito os presentes.

Quem se destacou também no meio de diversão da festa deste ano, foi Léo, um proprietário do Rancho do PMDB que movido pelo conjunto Arco-íris agitava a noite de centenas de pessoas que marcaram ali como o melhor ponto de diversão da festa.

Quem não estava a fim de ir a Ranchos, existiam também outros modos de diversão na festa deste ano, Barracas de Bingo ou apostas em roletas eram muito bem frequentadas e faziam sucesso entre os presentes. A ausência do Parque de Diversões foi notada por diversos frequentadores da festa que alegam poder existir um ali para alegrar ainda mais as noites, mesmo assim, quem queria se divertir utilizando de jogos, bastaria ir a uma das barracas de jogos eletrônicos que oferecia diversas opções, não deixando faltar nada.

Musicais animados

Nas noites do Ranchão, houve certa opção para a parte musical, com participação do conjuntos Comodoros, Iêdo e seu conjunto e dos tecladistas João Abrão e seu filho Danilo. Aconteceu neste ano certa concorrência com relação a estes ranchos, de um lado Crispim animava os leilões para Deusmar e de outro o Sapo transmitia de sua conhecida radio do brejo os leilões do Ranchão. Em matéria de diversão, sem duvida nenhuma, esta festa deixou saudades.

 

O Comércio explora a tradição da festa sacra

Em meio à beleza tradicional da festa de Nossa Senhora do Rosário de Catalão, o que se destaca a cada ano, é a crescente utilização das mediações da festa para a montagem de barracas que comercializam produtos diferenciados.

Nestas barracas, a população catalana encontra desde pequenos brinquedos como o popular ioiô até utilidades para o lar, panelas e jogos de latas, etc, passando por roupas, calçados e assim por diante.

Para muitas pessoas, é um absurdo comercializar em uma festa como a de Nossa Senhora do Rosário, pois isso pode fazer com que a população em geral se sinta dispersada e não viva a verdadeira intenção da festa, o que geralmente acontece. Mas, apesar disso, é interessante haver estas barracas em Catalão na época da festa, pois isso atrai a nossa cidade pessoas de diversos locais do Brasil.

Este ano em si, devido à crise que assola todo pais, o numero de comerciantes esteve bastante reduzido, para muitos barraqueiros, é muito difícil se deslocar de um local para outro, pois a despesa é muito grande e ainda existe a taxa de locação pelo terreno a ser utilizado, que muitas vezes é acima do esperado por esta classe.

Segundo nos afirmou Sr. Milton, comerciante de utensílios para o lar, o movimento este ano na Festa do Rosário de Catalão foi bem menor em relação as vendas do ano passado apesar de que havia gente, pois as ruas estavam estreitas para a locomoção de quem ali passasse.

Durante dez dias, as ruas envolta a Praça do Rosário recebeu todo tipo de comerciante, uns incrementavam suas pequenas “lojas” com televisão, aparelhos de som, alto-falantes pronunciando engraçados convites que atraiam os compradores e também curiosos enquanto que outros faziam do chão coberto com um pano ou papel seu espaço de venda. No meio a barracas, como sempre, existia os mascotes, que aqueles que ficavam de passo a passo entre os cidadãos que passeavam pelo largo, oferecendo relógios, bijuterias, óculos e outros pequenos produtos.

Com relação ao comércio municipal, a Festa do Rosário faz cair em uma grande escala o movimento das lojas da cidade, segundo alguns comerciantes, o povo gasta em dez dias, o equivalente as compras de dois ou três meses, voltando o mercado a ficar normal somente na ocasião do natal. Ai sim é valorizado o produto das lojas da cidade.

Esta grande perca com relação ao mercado influi também no desenvolvimento econômico da cidade, o dinheiro vai embora de Catalão e o que fica aqui é somente um produto de uso comum, que com o tempo vai se desgastando e há uma defasagem com relação ao dinheiro.

Mas, através dos impostos cobrados pela Prefeitura destes comerciantes, uma parte do dinheiro continua na cidade e, é claro, é aplicado em obras municipais. Em síntese a comercialização da festa do Rosário já é ponto de tradição desta festa e por isso pode muito bem continuar, não ameaçando prejudicar a verdadeira intenção da festa.

 

A politica invade a comemoração sacra

Nem todas as atenções da festa de Nossa Senhora do Rosário este ano estavam voltadas ao comercio ou a religião. Por este ano ser disputado eleições municipais, os candidatos aproveitaram da situação e fizeram comitês pró suas candidaturas bem junto à festa, causando até certa concorrência com ela. Quem trabalhou bem dizer silencioso nesta festa e fez política, foram os partidos do PT e PFL que preferiam esquematizar um plano de trabalho mais direto. Por parte do PL e PMDB, existiu uma disputa onde cada um queria provar aos presentes que era mais forte. O candidato do PL, Sr. Mauro Netto, recebeu do governo estadual, ou mais precisamente do Governo Santillo, apoio completo a todas as ações politicas, bancando inclusive a promoção escrita desses candidatos. O partido ofereceu também aos devotos, um telão onde eram exibidos clips musicais e resumo do plano de trabalho de seus candidatos, e era visível que a intensão do candidato era prejudicar o bom andamento do ranchão. Só que mais uma vez a força da irmandade foi mais forte, não adiantou nada o boicote. O candidato do PMDB, além de instalar rancho, fez de seu comitê um posto de distribuição de agua gelada e cafezinho, recebendo milhares de pessoas no decorrer da realização da festa.

Além desses trabalhos internos em seus comitês, existia também a ação corpo a corpo, valorizada principalmente pelos candidatos dos dois partidos acima citados.

Os candidatos a vereador e prefeito do PT resolveram trabalhar diferente dos demais, instalaram um barzinho a fim de arrecadar verbas para o sustento dessa campanha.

Outros pequenos partidos se destacaram, como o PC do B que através do vereador João de Deus, pode mostrar a força do seu trabalho, mesmo assim, creio que não vale a pena utilizar uma festa tão folclórica com propagandas politicas, ainda mais quando muitos políticos acham que tudo não passa de uma brincadeira, inclusive alguns de nossos candidatos a vereador ou ate mesmo prefeito.

 

 

 

 

Pesquisa e produção; Maysa Abrão ano 2015, direitos reservados.

Fonte: Jornal “A Voz do Sudeste” – ANO IV– Nº 42 – Organização José Cândido – Catalão, 20 de outubro à 05 de novembro de 1988 – Página 2. 

Fonte: Jornal “Em Pauta” Edição Especial – Catalão, 15 a 21 de outubro de 1988

FOTOS: Museu Histórico Municipal Cornélio Ramos; Museu da Congada, Catalão, Goiás; Arquivo pessoal dos festeiros. Jornal “Em Pauta” Catalão, 15 a 21 de outubro de 1988