O Dia da Vitoria por Professor Antônio Miguel Jorge Chaud

Faz poucos dias, conversei com meus alunos a respeito do descaso com que, nos dias que correm, é tratado o civismo.

Realmente, nos tempos que não vão longe, ouvia-se o hino nacional a três por quatro e eram normais e costumeiras as referências, nas discussões e conversas, aos vultos históricos bem como as festividades comemorativas das grandes datas da nacionalidade.

Hoje (JUNHO DE 1966), a coisa mudou. Se se deseja ouvir o hino nacional, é preciso esperar uma formatura ou coisa parecida e falar em Duque de Caxias, Tiradentes, Henrique Dias, etc. caiu de moda.

Há de fato uma decadência visível e entristecedora no culto do civismo e,  para corrobar minha assertiva, haja vista ao que ocorreu no passado dia 8 de maio, quando passou em brancas nuvens o Dia da Vitória.

Muitos não sabem porque. Vou explicar.

Lá pelos idos de 1942, as democracias lutavam contra o Eixo (aliança da Alemanha com a Itália e o Japão).

Ainda que a simpatia do povo e a solidariedade do govêrno brasileiro fossem aliados das democracias na luta contra a tirania e o despotismo que ameaçavam obscurecer os horizontes dos povos livres, o Brasil era tão só espectador da luta sangrenta que se tratava, desde 1º de setembro de 1939, nos campos do velho continente.

Os seguidos atos de pirataria que os submarinos alemães praticaram contra a nossa pacifica marinha mercante, afundado dezenas de barcos nacionais e destruindo a vida de centenas de brasileiros, modificaram a nossa posição e, o Brasil, cioso de seu brio, declarou guerra ao Eixo.

Brasileiros de todos os quadrantes foram convocados para integrar o grupamento militar que representaria o Brasil no teatro das operações.

Catalão não faltou ao seu dever e mandou para os centros de recrutamento quase duas dezenas de jovens, dos quais somente seis seguiram para a Itália, integrando a Força Expedicionária Brasileira: Manuel Camilo Neto, Geraldo Martins Teixeira, João Pinto de Melo Filho (Gê), Ademar Fernandes Ferrugem, João Kotnik e Virgilino Caixeta.

Nos campos gelados da Itália, os nossos conterrâneos lutaram, ao lado de seus irmãos, com denodo e coragem exemplares, e, no fragor da batalha, um dos nossos: Ademar Fernandes Ferrugem sucumbiu vítima de uma granada.

As lutas continuaram e, de vitória em vitória, os brasileiros assinalaram gloriosamente, sua presença na 2ª Guerra Mundial.

Chegou o dia 8 de maio.

Os nazi-fascistas depuseram as armas e o clarim da vitória anunciou o termino da luta, pondo fim à hecatombe que havia enlutado milhões de lares e à intranquilidade que tinha sobressaltado a humanidade.

Voltaram os nossos pracinhas, cheios de honra e glória, deixando no Cemitério de Pistoia, na Itália  os corpos das centenas de brasileiros que ofereceram suas vidas em favor da paz entre os homens.

Lá ficou, entre êles, o corpo de Ademar Ferrugem.

As recepções apoteóticas, em meio ao estrugir dos fogos e ao repicar das fanfarras, sob os acordes de hinos patrióticos, com que o povo brasileiro acolheu os pracinhas da FEB, no seu regresso, não puzeram fim aos seus sacrifícios.

Dos cinco catalanos que regressaram aos seus lares, alguns trouxeram consigo a herança trágica da guerra. E, alguns dêles, Manuel Camilo Neto e João Kotmik, sucumbiram ao influxo dessa herança e, outro, Virgilino Caixeta, curte, na sua insanidade, o pecado de ter servido à Pátria.

Em 1946, o Rotary Club de Catalão promoveu uma homenagem aos pracinhas e à FEB, fazendo levantar no Jardim Público um monumento singelo.

Nos primeiros tempos, os estudantes de quando em vez, no dia 8 de maio, reuniam-se para comemorar a data e relembrar o sacrifício dos nossos conterrâneos.

Mas!… Aí vem a causa de nossa tristeza: não se fala mais nisso.

Hoje (JUNHO DE 1966), os ídolos são outros e falar-se em patriotismo é ser piegas e antiquado.

De qualquer forma, ainda temos esperança na mocidade e vamos ver se nos dias que hão de vir, terá ela um reencontro com as tradições históricas, cultuando os heróis e festejando as grandes datas.

É ingratidão, e não pouca, esquecer o sangue derramado, as lutas travadas e a caminhada heroica das gerações que antecederam no seu afã de cimentar a grandeza da Pátria.

 

 

 

 

FONTE: Antônio Miguel Jorge Chaud para o Jornal “Mundo Melhor” – Órgão Cultural Recreativo do Colégio Nossa Senhora Mãe de Deus. “O MUNDO SERÁ MELHOR QUANDO FORMOS MELHORES” , Ano 2, Catalão, GO, Junho de 1966.

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