Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde

Alexandre Carlos da Silva Teixeira

 

A princípio, Santo Antônio do Rio Verde (SARV) começou ser povoado, ainda no século XVIII, principalmente às margens dos rios que permeiam o seu vasto território, posteriormente, iniciou-se a origem do núcleo urbano próximo ao Rio São Bento por volta de 1820, devido à passagem de tropeiros e boiadeiros. No referido local houve a construção da Igreja Católica em 1864, em volta do templo surgiram casas e comércios, em pequena quantidade, dando fôlego ao movimentado Distrito.

Com o grande fluxo de produtos e mercadorias na divisa entre Minas Gerais e Goiás, havia a necessidade de implementar cada vez mais postos fiscais para arrecadar impostos para o governo. Desta forma, em 1860, o governo provincial dividiu a Recebedoria do Porto Mão-de-Pau, vinculada ao Porto Mão-de-Pau no Rio Paranaíba, criando a Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde.

No final do século XIX havia um número considerável de habitantes no Distrito, que povoavam as margens dos rios Paranaíba, São Marcos, São Bento e Rio Verde, a contar dois mil habitantes, conforme o Recenseamento de 1872. O número era considerável quando comparamos com a população total de Catalão, que na época era de cerca de dez mil, incluindo Santo Antônio do Rio Verde. Provavelmente já havia um Posto Fiscal no Rio Verde.

A população do município, conforme o recenseamento de 1º de agosto de 1872, era de 10.502 almas, nos dous (sic) destrictos (sic), sendo cerca de 2.000 no do Rio Verde. (Anais da Biblioteca Nacional, 1992, p. 180)

Os habitantes de SARV tinham a pecuária e a subsistência como principais atividades. A venda dos produtos e mercadorias, tanto dos moradores de SARV quanto os de Minas Gerais, geravam muito lucro ao cofres do estado, a destacar: gado bovino, gado suíno, farinha de mandioca, feijão, arroz, queijo e até mesmo cristais.

Com a criação da Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde, o distrito alcançou grande destaque nos séculos XIX e XX, visto que foi um dos mais rentáveis ao governo na época e devido à presença de personalidades e autoridades de grande importância para Goiás que residiram no distrito para administrar a recebedoria.

Fonte: https://bndigital.bn.gov.br

A grande arrecadação da Recebedoria, que tinha vinculadas a si várias agências fiscais, agravou uma disputa territorial de Goiás com Minas Gerais, a qual perdurou por mais de um século, no período de 1800 à 1940. O interesse de ambas as partes não era somente em ter a posse territorial de uma gleba de terra, era necessariamente em apossar da grande arrecação que os diversos postos fiscais espalhados no distrito proporcionava àqueles que tivessem a sua posse. A quantidade de agências fiscais vinculadas à Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde era numerosa, de tal modo que é possível elencar pelo menos dezenove: Santo Antônio da Soledade, Porto dos Freires, Faustino Lemes, Pilões, Vereda dos Soldados, Pereiras, Jacaré, Joaquina, Gabriel, Emiliano, José Borges, Pachecos, Campinas, Ruela, José Borges, Trahyras, Bom Sucesso, Lagoa Torta e Guarda-Mor. A agência de Guarda-Mor localizava-se em território mineiro, mesmo assim estava em acordo com as leis da época para arrecadar impostos para o cofres de Goiás.

Recorte do Mapa que destaca as agências de Pilões e: No Rio Paranaíba: Jacaré, Joaquina, Soldados e Freires; Rio São Marcos: Emiliano, Faustino Lemes, Soledade.

Grande parte das agências mencionadas concentrava-se em volta dos rios Paranaíba, São Marcos e Rio Verde, conforme mapa de 1902 de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo apresentado anteriormente.

Ao pesquisar sobre Santo Antônio do Rio Verde, a maioria da notícias sobre o distrito nos séculos XIX e XX estão vinculadas às atividades inerentes à referida recebedoria, seja sobre nomeações e exonerações, compra e venda de mercadorias, conflitos e confusões entre poderes políticos, liberação de verbas, destinação de licenças e até mesmo confrontos entre os funcionários e militares goianos com os de Minas Gerais.

As recebedorias eram importantes para a arrecadação de impostos, por isso, seus administradores eram escolhidos de forma estratégica para garantir o sucesso do seu propósito. Dentre tantos, o Coronel Roque Alves de Azevedo, figura histórica de Catalão, foi designado e nomeado para administrar as Recebedorias no Porto Mão de Pau, Porto Velho e Porto Santo Antônio do Rio Verde, conforme Coelho Vaz relata no livro Roque Alves de Azevedo: Primeiro Poeta Catalano:

Apenas um caminho ligava Catalão à estrada Real até à Corte (Rio de Janeiro), via Minas Gerais e São Paulo. Trata-se de uma estrada que chegava ao entroncamento do Rio Paranahyba, no Porto Mão de Pau, distrito de Catalão, o mais movimentado, classificado como o melhor em qualidade e importante na cobrança de impostos da Tesouraria Provincial. Havia, ainda, no território catalano, mais duas recebedorias: Porto Velho e o Porto Santo Antônio do Rio Verde, que aumentava, não resta dúvida, os recursos financeiros da arrecadação da Província e da Corte. Pela importância do cargo, foi designado e nomeado responsável pela Coletoria provincial, o coronel Roque Alves de Azevedo, para administrar as finanças dos três Portos do Rio Paranahyba. (Vaz, 2024, p.28)

Outro administrador ilustre da Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde foi o Coronel Henrique da Veiga Jardim, pai do ex-intendente de Catalão João da Veiga Jardim, e parente muito próximo do Sr. José Leopoldo de Bulhões Jardim (Leopoldo de Bulhões) que esteve diretamente ligado à Revolução de 1909, aliás, não somente Leopoldo Bulhões, mas a família Jardim.

Fonte: https://bndigital.bn.gov.br

A região que pertencia à Recebedoria de Santo Antônio do Rio Verde era promissora, possuía moradores ilustres e de grande importância política tanto para a região quanto para Goiás. Com o passar do tempo, foi declinando até extinguir a Recebedoria e as suas agências, que tornaram-se obsoletas para arrecadar encargos mediante às novas tecnologias.

Impostos pagos à recebedoria de SARV (Semanário Oficial – 1899)

Fonte: https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital

 

Alexandre Carlos da Silva Teixeira

 

Alexandre Carlos (2025)

Nasceu em Ouvidor – GO no dia 22 de agosto de 1982, filho de Antônio Carlos da Silva Teixeira e Nilza Pires dos Santos Teixeira. Concluiu a Educação Básica em escolas públicas de sua cidade natal, é professor Mestre em Matemática, com Graduação em Matemática e Pedagogia, Especialista em “Educação Infantil, Alfabetização e Letramento” e “Psicopedagogia Institucional e Clínica”.

Reside em Santo Antônio do Rio Verde desde 2005, data em que começou a sua jornada de professor na educação. Em sua carreira docente, além de professor, foi Secretário e Gestor. Fixando residência em Santo Antônio do Rio Verde, constituiu família e um grande vínculo com a comunidade local, sendo educador e líder religioso. Casado, com dois filhos, procura se ater no presente não esquecendo do passado, momentos estes que servem de inspirações para escrever Crônicas e Poemas.

Além de professor e líder religioso, aventura-se em exercer outras habilidades tais como: escritor, poeta, cronista, historiador/pesquisador, músico, instrutor de fanfarra e construtor civil.

OBRAS DO AUTOR:

  • Memórias do Passado: Santo Antônio do Rio Verde, Catalão – GO, Gráfica São João, 2023.
  • Memórias de um Sonhador, Catalão – GO, Mirai Livros, 2024.
  • Poemas: Vivendo, Sofrendo e Aprendendo, Catalão – GO, Mirai Livros, 2025.

Participações em Antologias:

  • Catalão: Livro da Comunidade, Catalão – GO, Academia Catalana de Letras, 2024.
  • Pequeno Semear: Antologia de Poeminhas, Rio de Janeiro – RJ, Editora Frutificando, 2024.
  • Antologia: Por Toda Poesia, Pedras do Fogo – PB, Fanzine, 2024.
  • Antologia Poética: Irmão das Letras 2024, Recife – PE, EHS Edições, 2024.
  • Antologia: Onde Moram as Palavras, Fortaleza – CE, Editora Literária, 2025.
  • Antologia Poética: Diante do Amanhecer, Recife – PE, EHS Edições, 2025.
  • Antologia: Poesia Efêmera, Recife – PE, EHS Edições, 2025.
  • Versos Diversos, São Paulo –SP, Coletivo Editorial Literabooks, 2025.