BERNARDO GUIMARÃES – Mais um causo goiano por Sonia Sant’Anna

Mais um causo goiano…

Poucos sabem que BERNARDO GUIMARÃES, autor do livro Escrava Isaura, depois de formado em Direito em São Paulo e de ter sido jornalista no Rio de Janeiro, viveu em Catalão, GO, em 1861, nomeado Juiz Municipal. Apesar do cargo, costumava usar chinelões de couro, roupas sujas e desalinhadas, a barba e cabelos crescidos. Tomava banho raramente, quando o obrigavam os amigos, subjugando-o e lavando-o à força. Morava em companhia de uma mulata, apelidada Jequitirana, feia, vesga e alcoólatra, e de um malandro, irmão dela. Viviam bêbados os três, sujos e mal alimentados, pois a casa não possuía panelas – aliás não possuía qualquer mobiliário. O álcool, mais tarde aliado ao éter, arruinaria totalmente a saúde do escritor, levando-o à morte. Passava as noites a tocar violão nas tendinhas e tabernas, ou saía a fazer serenatas com os amigos, entre os quais o Roquinho, filho do coronel que dominava a cidade na época. Rapaz educado no Caraça e autor de poemas satíricos ou eróticos, certamente influenciado por Bernardo, mais conhecido como autor de obras românticas, e cujas poesias eróticas, a bem dizer pornográficas, o moralismo da época relegou à clandestinidade. Outro companheiro de pândegas de Bernardo era o vigário, que vivia maritalmente com uma jovem de quem tinha cinco filhos, e mantinha, paralelamente, inúmeros casos amorosos. Como companheiro de pescarias, elegeu Afonso, um índio bandoleiro e assassino de aluguel. Dessa amizade resultou um livro, O Índio Afonso, publicado em 1873.


Quando passou por Catalão o novo e recém-nomeado presidente da província, antigo companheiro de Bernardo na Faculdade de Direito de São Paulo, assustado com a imundície e a desordem, recusou polidamente a hospedagem que lhe ofereceu o antigo colega. Ao ver o escritor ocupando um cargo para o qual não fora talhado, arruinando a vida e a saúde, combinou que um rico comerciante local levaria Bernardo consigo da primeira vez em que fosse ao Rio e o entregaria aos cuidados de seu editor. O comerciante, ao retornar, deixou para trás o amigo, que lhe escreveu mais tarde, queixando-se da traição. Ao vigário, o poeta fez presente, numa carta, do violão que ficara na velha casa, e relembrava as tardes que haviam passado a tomar pinga sob a laranjeira do quintal.Os detalhes sobre e vida pessoal de Bernardo em Catalão foram retirados do livro de memórias do escritor goiano Ricardo Paranhos, cujo pai, mais tarde senador, foi o comerciante encarregado de “deportar” o escritor para o Rio de Janeiro. #berbardoguimaraes #catalao #goias #escravaisaura #soniasantanna

Casa em Catalão onde morou Bernardo Guimarães

A mesma casa, em 2017

 

 

 

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