CÓRREGO DO ALMOÇO: de terreno baldio a monumento histórico

A semente de Catalão foi plantada no Córrego do Almoço. A tradição e a história da cidade tiveram início nas margens daquele esquecido manancial. Felizmente o lugar será revitalizado, por iniciativa do atual prefeito, ganhando um belo monumento que relembra onde tudo começou. De mero terreno baldio, irá se transformar em um marcante cenário para a memória catalana.
O Córrego do Almoço não é um lugar qualquer. Apesar de desconhecido por grande parte da população, o local faz parte da história de Catalão. O pequeno riacho testemunhou grandes acontecimentos e ali foi lançada a semente que deu origem a esta bela cidade.
Para os moradores deveria ser um santuário pelo que representa na memória coletiva. Neste sentido, o prefeito Adib Elias Júnior, ciente da importância histórica e afetiva daquele logradouro, encomendou um projeto para revitalização da área. A intenção do prefeito é transformar o Córrego do Almoço em um portal da cidade. Para tanto, convidou historiadores, além de pessoas ligadas ao meio ambiente e à cultura para o renascimento da mais antiga memória do município, onde tudo realmente começou. Uma visão administrativa que demonstra afeto, respeito e amor às tradições locais.
De acordo com a tradição, oriunda das velhas gerações, o córrego serviu para saciar a sede dos bandeirantes, refazendo o ânimo dos viajantes a prosseguir em sua jornada na procura de ouro. Algum tempo depois, como registraram memorialistas, o córrego esteve nos limites da propriedade, fundada pelo imigrante pioneiro, denominada “Sítio do Catalão”.
Quase um século depois, esteve inserido no terreno doado por um fazendeiro, em 1810, para criação da paróquia Mãe de Deus, quando já se formava o Arraial do Catalão. Mais tarde, registros esparsos apontam o Córrego do Almoço, no final do século XIX, como ponto de descanso para tropas e boiadas que cruzavam a cidade rumo às invernadas do Triângulo Mineiro.
Foi também local de tocaia e ponto de encontro marcado para acerto de contas, fora da cidade, entre jagunços, moradores e coronéis. Quando um visitante não era bem vindo, sempre era tocaiado na passagem do Córrego do Almoço. Quando alguém era expulso da cidade, era fortemente acompanhado até o portal do córrego, lugar onde muitos criminosos lavaram suas facas antes de fugir para as barrancas do rio Paranaiba.
Quando vieram os trilhos da estrada de ferro, na década de 1910, os engenheiros da ferrovia encontraram naquele manancial um ponto de abastecimento para as velhas máquinas a vapor. O Córrego do Almoço ganhou então uma grande caixa d’água para servir as sedentas locomotivas da estrada de ferro.
No tempo em que a cidade ainda se resumia na Rua da Grota, o local continuou sendo a principal porta de entrada e saída do aglomerado urbano. Não existia ponte, somente uma pinguela e pelo leito do córrego cruzavam os carros de boi e as carroças de leite das redondezas.
O lugar, na verdade, era um entroncamento. Por ali passava a velha estrada para Goiandira e no lado adjacente ficava a saída para o Triângulo Mineiro. A partir da metade do século passado, motoristas de ônibus e jardineiras começaram a usar o vau do córrego como posto de lavagem dos veículos e a moda pegou também entre moradores da cidade.
O córrego definhava até que, na metade da década de 1960, o prefeito Paulo Hummel construiu um pontilhão sobre a pequena correnteza, protegeu suas margens e urbanizou a área.
Mas, a iniciativa pouco durou. Conforme registrou o prefeito em seu livro de memórias: “ao invés de preservar e ampliar aquela benfeitoria, mais uma vez a ignorância falou mais alto. Teve um prefeito que mandou destruir tudo e canalizou o córrego, acabando com o belo recanto existente, que tanto havíamos valorizado”.
Desse modo, o sítio embrionário da cidade foi sendo, aos poucos, apagado. O Córrego do Almoço, acalentado em uma tradição secular, não teve a sobrevida que merecia. Suas nascentes ficaram comprometidas com a urbanização.
Porém, misteriosamente, o local continuou quase intacto em função do matagal.
Um novo capítulo para sobrevivência do Córrego do Almoço está começando. A decisão do prefeito Adib Elias em revitalizar a área acontece depois de meio século de abandono.
Recanto atual do Córrego do Almoço
Vista do projeto da prefeitura para o local
Praça no Córrego do Almoço construída em 1965, pelo ex-prefeito Paulo Hummel, que no livro de suas memórias lamentou o abandono da área, que considerava merecer preservação e ampliação.
Monumento e placas alusivas sobre : “Aqui começou Catalão”
Projeto visto do alto
Luís Estevam