ORDENS RELIGIOSAS EM CATALÃO

Na história de Catalão, algumas congregações religiosas marcaram o apostolado no município. Tanto que, a devoção católica ficou imortalizada na denominação dos bairros  que foram surgindo pela cidade: Mãe de Deus, Santo Antônio, São João, N. S. de Fátima, São Francisco, Três Cruzes, Santa Terezinha, São José, Monsenhor Souza, Santa Cruz, Santa Helena, Santa Rita e outros mais.

Na verdade, Catalão nasceu sob o signo da cristandade. Entre os fundadores do lugar estava um padre beneditino, Frei Antônio da Conceição, que lançou a semente do apostolado local em 1722. Conforme  relato do escrivão da bandeira do Anhanguera, o padre retornou a São Paulo, depois de três anos, mas deixou seu sobrinho tomando conta das roças no lugarejo que posteriormente se tornou conhecido como Sítio do Catalão.

Os primeiros registros de batizados no Sítio do Catalão se deram em 1784, conforme pesquisa do padre Murah Rannier Peixoto Vaz. Ainda, de acordo com o estudioso, já existia um cemitério local em 1804, em razão dos diversos assentamentos de óbitos documentados. O certo é que, em 1820, o antigo sítio ganhou foros de arraial e a história religiosa de Catalão abriu novo capítulo.

Logo no ano seguinte, os moradores solicitaram licença para erguer uma capela. Nessa pequena igreja realizou-se a primeira missa no arraial em 1822, além de doze batizados de crianças da comunidade. Com a capela Mãe de Deus, veio o primeiro cura residente para Catalão, padre Felisberto da Fonseca Coutinho, até que, em 1833, ao se tornar Vila do Catalão, o lugarejo também recebeu a condição de paróquia curada, passando a contar oficialmente com padres residentes.

A partir da metade do século XIX, dois religiosos se notabilizaram na memória do município: o vigário Luiz Antônio da Costa e o seu sucessor, o cônego agostiniano Francisco Ignácio de Souza. O primeiro, em função do apostolado que empreendeu por todo o imenso município e o segundo, pela prioridade que deu à criação de escolas na área urbana de Catalão.

O padre Luiz Antônio da Costa era incansável e dinâmico no atendimento da zona rural e, ao mesmo tempo, na tentativa de apaziguar os ânimos sangrentos da política catalana. No cerrado tiroteio de 1892, por exemplo, o vigário se colocou de bandeira branca à frente dos atiradores, em pleno centro da cidade, até cessar o tiroteio. Além disso, pregava a compreensão e o perdão entre as famílias envolvidas, na esperança de frear as vinganças que sempre aconteciam.

Com o seu falecimento em 1895, o sucessor, cônego Francisco Ignácio de Souza, tornou-se conhecido pelas iniciativas educacionais que empreendeu. Fundou o colégio masculino Sagrada Família, no largo da Velha Matriz, que funcionou nas primeiras décadas do século passado. Com o fechamento do colégio conseguiu, junto ao bispo de Goiás, a vinda das madres agostinianas espanholas que fundaram o colégio Mãe de Deus em 1921. Monsenhor Souza, como ficou conhecido, virou referência educacional na formação da juventude catalana.

Os padres agostinianos estiveram à frente da paróquia em Catalão por quase um século. Todavia, em 1940, por razões internas da ordem e na falta de vocações, despediram-se da cidade. O último agostiniano, padre Ângelo Cosgaia, foi agradecido em cerimônia pública e se afastou em definitivo de Catalão em dezembro de 1940. Na ocasião, representantes dos moradores lamentaram sua partida. O promotor público Guimarães Lima, por exemplo, comoveu os presentes realçando o sentimento de tristeza, saudade e desolação que restaram na população catalana depois de tantos empreendimentos agostinianos no município.

A partir de 1941, Catalão ficou sem padres residentes na paróquia, sendo atendido pela boa vontade de religiosos diocesanos lotados em outros municípios.

Mas, o clima de insatisfação crescia até que as madres agostinianas ameaçaram também encerrar a sua permanência na cidade e o trabalho educacional que desenvolviam. Ao tomar conhecimento do fato, o bispo Dom Emanuel Gomes de Oliveira se viu pressionado a tomar uma decisão emergencial. Ficou sabendo da disponibilidade, anteriormente expressa por um religioso dos Estados Unidos, frei Mathias Faust, de enviar padres para o Brasil. Assim, o bispo propôs a vinda de franciscanos da América do Norte para preencherem o vazio criado pela retirada dos agostinianos.

Diretamente de Nova Iorque para Catalão, a proposta foi bem aceita. No final de 1943, um grupo de padres americanos entrou no navio em direção ao Brasil. Entre eles, frei Damião, frei Celso, frei Bernardo, frei Gabriel, frei Dunstan, frei Conall, frei Jaime, frei João Francisco, frei Paulo, frei Felipe e frei Cristóvão. Vieram pelo oceano Pacífico, contornando a América do Sul, até São Paulo, porque o Atlântico estava tomado por submarinos e navios de guerra da segunda guerra mundial. De São Paulo foram enviados para o Rio de Janeiro onde fizeram um curso intensivo de português e trocaram de identidade pessoal, adotando nomes mais comuns e assimiláveis pela população.

Desse modo, em 1944 começou o trabalho pastoral  dos frades norte-americanos em Catalão, Anápolis e Pirenópolis. Catalão acabou se tornando pioneiro, inclusive, na construção do convento e da casa paroquial, com recursos vindos diretamente dos Estados Unidos, sob administração do novo vigário, frei João Francisco.

Na medida do possível, os padres de Catalão atendiam os fiéis de Goiandira, celebrando missa dominical e, uma vez por mês, nas capelas de Cumari, Anhanguera, Veríssimo e Nova Aurora. Até que, por iniciativa do vigário de Catalão foi criada, em 1947,  a paróquia franciscana de Goiandira, onde se ergueu o convento e a escola paroquial Santa Maria Goretti.

A escola paroquial, em Catalão, começou a funcionar em 1949 numa pequena casa alugada, inicialmente dirigida por irmãs leigas. As madres norte-americanas somente vieram em 1954, quando um prédio mais adequado foi adquirido e construído um convento para residência das freiras.
Em 1952, os padres haviam comprado o colégio Roosevelt que converteram em Ginásio São Bernardino de Siena que chegou a ter, naquela década, uma média de 850 alunos matriculados.

Em 1965, os frades adquiriram a Rádio Cultura de Catalão que foi administrada, por vários anos, por frei Galdino e posteriormente por frei Sebastião, frei Deusdet e frei Irineu. A emissora teve um papel bastante ativo no apostolado radiofônico dos franciscanos e uma importância admirável nas comunicações regionais.
A ordem franciscana administra a paróquia Mãe de Deus, em Catalão, há 77 anos seguidos. Inúmeros foram os padres estrangeiros que por aqui passaram e fizeram história junto à comunidade.

Mas, nem tudo foram flores nessa caminhada. Inicialmente aconteceu um forte choque cultural entre os norte-americanos e os moradores de Catalão. Os padres condenavam o sincretismo religioso presente nos festejos tradicionais do município, principalmente a Festa de São João e a de N. S. do Rosário, chegando a não participar desses eventos. Com isso, algumas comemorações tradicionais no município foram definhando ao longo dos anos. Outro episódio isolado foi o fato de um morador da cidade ter dado violenta surra em um frade, tudo indica, por divergências político-ideológicas. Mas, com o tempo, houve uma compreensão mútua e reconhecimento, pela comunidade, do trabalho desprendido e abnegado que os padres realizavam em Catalão.

Um marco interessante, na dimensão religiosa, ocorreu em Catalão na ordem terceira franciscana. Quando os primeiros frades chegaram, em 1944, descobriram que a instrução  catequética leiga já possuía uma esmerada organização.  Uma senhora zelosa, Dona Yolanda de Mendonça Vaz, orientava a catequese nas escolas da cidade com resultados notáveis. Frei João Francisco, o novo pároco, ficou impressionado com o espírito e a dedicação da catequista.

Natural de Catalão, casada em 1938, depois de oito meses de vida conjugal, Dona Yolanda perdeu seu jovem marido, dando a luz, dois meses depois, a uma menina. Na condição de viúva e mãe, para se sustentar, Dona Yolanda precisou retornar ao magistério que exercia quando era solteira. Ao mesmo tempo, entregou-se, sem reserva, ao serviço da Igreja. Foi nomeada, pelo vigário, primeira diretora da escola paroquial e admitida à ordem terceira franciscana.

Dona Yolanda desempenhou um admirável apostolado, instruindo e inspirando novos membros, chegando a fundar o Instituto das Irmãs Catequistas Franciscanas, em 1962, com aprovação do arcebispo Dom Fernando Gomes dos Santos. O instituto lentamente foi se expandindo por Ipameri, Orizona, Corumbaiba e finalmente Goiânia.
Hoje, Catalão, sob a direção da Diocese de Ipameri, conta com a antiga paróquia Mãe de Deus, dos franciscanos, da paróquia São Francisco e da paróquia São Vicente de Paulo, administradas pelos padres ) diocesanos, que fazem parte da história contemporânea do município.

FOTO: Vigário Luiz Antônio da Costa

FOTO: Monsenhor Souza

FOTO: Padres franciscanos pioneiros em Goiás

FOTO: Dona Yolanda, acompanhada de uma catequista, o vigário de Catalão e o arcebispo de Goiânia

Por Luís Estevam