Recordações da Academia Catalana de Letras – A Santa Casa de Misericórdia de Catalão

A Academia Catalana de Letras relembra que, a Santa Casa de Misericórdia foi o maior presente que Catalão ganhou por ocasião do centenário da cidade. Depois de 10 anos em construção, o hospital foi entregue à população em 20 de agosto de 1959 estando, desde então, em funcionamento. Fruto do idealismo, da generosidade e da caridade de muitos, a instituição completa 71 anos de fundação e 61 anos de atendimento aos moradores da região.

Até a metade do século passado, o atendimento médico hospitalar dos catalanos era feito em Araguari-MG. Catalão não tinha hospital e era grande o sofrimento dos moradores. Mesmo quando se conseguia transporte para o enfermo, a viagem era dolorosa. De carro, até Araguari, o tempo de percurso durava mais de cinco horas numa estradinha de subidas, descidas e solavancos. Mas, era a opção mais viável de tratamento médico porque naquela cidade existia, desde 1918, uma Santa Casa de Misericórdia para amparo a indigentes e pessoas de menor poder aquisitivo.

A ideia de se fundar uma Santa Casa em Catalão surgiu na campanha política de 1947, quando o candidato João Netto de Campos, nos discursos, abordava a carência hospitalar municipal e conclamava a comunidade a abraçar tal propósito. Resultou que, depois de eleito, o prefeito continuou a difundir sua ideia convocando vários cidadãos a participar da criação de uma unidade hospitalar de caridade no município.

Culminou que, em 18 de janeiro de 1949, no salão nobre do fórum, foi eleita a comissão encarregada de concretizar esse sonho. João Netto de Campos conseguiu, como aliados, nomes bastante representativos da comunidade catalana: Galeno Paranhos, Euclides Santos, Antonio Miguel Chaud, João Meireles, José Víctor Rodrigues, Lamartine Pinto de Avelar, João Miguel Safatle, Jamil Sebba, Luiz Alcântara de Oliveira, David Persicano, Tharsis Campos, José de Campos Meireles, Aníbal Jajah, Florindo Braga, José Netto de Campos, João Martins Teixeira, Enéas da Fonseca e José Marcelino da Silva.

Cada um deles recebeu, na ocasião, uma tarefa a cumprir. O próprio João Netto, presidente da comissão, fez uma campanha entre os fazendeiros, arrecadando cabeças de gado em doação que, depois de vendidas, somaram 25 contos de réis, o suficiente para adquirir um terreno para a instituição. Através de reivindicação do deputado Galeno Paranhos, o governo federal liberou 600 contos de réis que, aplicados no projeto, deram para levar a obra até a primeira laje. Outros recursos vieram, aos poucos, graças ao trabalho de Wagner Estelita Campos, Sebastião Santana e Benedito Vaz. O governador do estado, Mauro Borges, também colaborou com um pequeno aporte de recursos.

O gerenciamento da construção, até o final, ficou por conta do professor Antonio Chaud, como sempre um entusiasta por melhorias para Catalão. Aliás, o projeto e a estrutura básica da obra havia sido conseguida por Chaud junto ao Ministério da Saúde. Por sua vez, o eminente advogado Tharsis Campos cuidou de toda a parte jurídica, elaborando estatutos, regimentos, normas clínicas e participando ativamente das solicitações de verbas e subvenções para a instituição. Ressalte-se que, nenhum deles recebeu qualquer remuneração pelo trabalho empreendido.

Depois de uma década de esforço conjunto, a Santa Casa de Misericórdia de Catalão ficou pronta, sendo inaugurada em 20 de agosto de 1959 como parte das festividades alusivas ao primeiro centenário da cidade. Na ocasião, conforme relato de João Martins Teixeira que esteve envolvido diretamente no processo, o pavimento superior estava pronto com seus apartamentos e enfermarias mobiliados. No centro cirúrgico, apenas uma das salas havia sido concluída mas, em suas palavras, “dava gosto ver naquele dia tudo muito limpo, desde a rampa antiderrapante que levava até o pavimento superior, desembocando no grande salão e nos longos corredores azulejados”. Naquele dia, o diretor Lamartine Pinto de Avelar abriu o hospital a todos os médicos que dele quisessem fazer uso no intuito de beneficiar os pacientes, principalmente os mais pobres e indigentes.

Dias depois, a equipe médica realizou, com sucesso, a primeira cirurgia no hospital.

Da inauguração até o final de 1964, a Santa Casa experimentou a sua primeira etapa de dificuldades. Como era previsível, atraíra indigentes do município e das cidades vizinhas antes de ter a manutenção assegurada com auxílios e subvenções. Somente conseguia, com dificuldades, ajuda governamental para as despesas correntes. Os moradores de Catalão, com poucos recursos, não tinham como contribuir e, além do mais, a ideia erroneamente difundida era de que a instituição pertencia ao governo e dele era o dever da sua manutenção.

O que ajudou bastante, nesse período, foi a dedicação da equipe médica que, com bom atendimento atraiu grande clientela, não cobrando da Santa Casa a maior parte de seus honorários. Foi o tempo em que Lamartine Pinto de Avelar, Roberto Marot e Silvio Paschoal lideraram o atendimento médico do hospital.

A partir de 1965, a instituição obteve uma certa folga no orçamento. Com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), as despesas médicas hospitalares passaram a ser custeadas pelo instituto. Sem limites ao atendimento, a Santa Casa ficou repleta de previdenciários. Mas, com a expansão dos custos de saúde, o INPS limitou os atendimentos e o hospital teve que se adaptar às novas regras.

Em 1976, com a morte do Dr. Lamartine, a Santa Casa optou por ampliar o quadro clínico, convidando médicos de várias especialidades a ingressar na instituição. Arregimentou profissionais que passaram a “vestir a camisa” da casa, atendendo a todos que buscavam recursos médicos sem distinção de raça, credo ou classe social. Foi a época do ingresso de médicos como Wilson Mendes, Aguinaldo Mesquita, Delmo Moreira, João Sebba, Arnaldo Batista, Eduardo Caixeta, Elaine Teixeira, Fernando Aires e Jeová Nascimento. O quadro se completava com o pioneiro João Martins Teixeira no laboratório e Haroldo Campos na radiologia, com todos os serviços possíveis da época. No todo, uma equipe coesa, de profissionais comprometidos com a instituição e que fazem do trabalho diário uma extensão de seus lares. Não fosse isso, a Santa Casa não teria a sobrevida que vem alcançando.

Nas últimas décadas, a população de Catalão mais que duplicou e evidentemente cresceu muito a demanda por atendimento hospitalar. A Santa Casa foi se modernizando dentro do possível, expandindo o pronto socorro, criando anexos e fazendo inúmeras reformas estruturais.

Ao mesmo tempo, porém, o sistema de saúde no Brasil não teve o desenvolvimento necessário e ficou sem recursos, quase inoperante. Nesse cenário, a Santa Casa de Misericórdia de Catalão sobrevive porque continua sob o signo do idealismo, da generosidade e da caridade dos envolvidos na sua história.

FOTO: Santa Casa de Misericórdia de Araguari (1920)

FOTO: Santa Casa de Misericórdia de Araguari (1950)

FOTO: Vista parcial de Catalão onde vê a Santa Casa de Misericórdia e a Praça das Mães (década de 1970)

FOTO: Equipe médica da Santa Casa de Catalão (início da década de 1980)

 FOTO: Vista da Santa Casa de Misericórdia de Catalão após várias reformas

Luís Estevam

 

 

 

 

 

 

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