Recordações da Academia Catalana de Letras – Fazendas Antigas

A Academia Catalana de Letras recorda que, durante mais de um século, a vida dos habitantes de Catalão se resumia ao mundo rural. Os costumes eram estranhos para o homem da cidade. Para chegar na porta de uma fazenda, por exemplo, o visitante era obrigado a tocar o gado no pátio ou passar por cima das reses deitadas na entrada da casa. Não era desleixo do fazendeiro mas fazia parte de uma velha tradição herdada das sesmarias.

A matriz social de Catalão é bem definida. Até o início do século passado, a vida rural era predominante no município. Quase ninguém tinha o costume de ir regularmente à cidade. Somente após a década de 1920, as relações urbanas foram se sobrepondo ao mundo rural.
O fator preponderante foi a imigração estrangeira no município que abriu casas comerciais e indústrias no perímetro urbano. A criação de colégios, serviços médicos, jurídicos, além da oportunidade do emprego assalariado, tornaram-se forte atrativo para as famílias da roça que, pouco a pouco, foram se mudando para a cidade.

Contudo, a vida rural, embora tenha deixado de ser predominante em Catalão, ainda pode ser encontrada em algumas antigas fazendas do município.

Os primeiros ocupantes de sesmarias na região do Paranaíba vieram de Minas Gerais, deslocando-se em carros de boi com mulheres, filhos e parentes, em um movimento vagaroso e continuado. Buscavam lugares mais férteis onde pudessem começar uma nova vida. A terra em si tinha pouco valor. Contavam mais as benfeitorias que fossem agregadas à propriedade como edificações, ferramentas e equipamentos.

Com o tempo, os primeiros ocupantes foram dividindo e subdividindo as sesmarias entre os descendentes. Na época, o município de Catalão era imenso. Chegava a ser dez vezes maior do que é atualmente. Na falta de estradas e comunicações, a principal característica da fazenda tradicional era o isolamento, sendo obrigada a produzir de tudo no interior da propriedade, desde alimentos, móveis, vestimentas até remédios.

A fartura de alimentos era admirável. Na lavoura predominavam o cultivo do arroz, milho, feijão, cana e mandioca. Nos quintais eram plantados manga, mamão, jabuticaba, abacate, laranja, limão, goiaba, lima, mixirica, caju e genipapo. Entremeio às lavouras podia-se colher abóboras, melancia e pepino. Na horta vicejavam legumes, verduras e chás.

Na atividade pecuária criava-se, além das aves de terreiro, cavalos, porcos, mulas e gado curraleiro. O boi e o cavalo tinham importância fundamental. O primeiro era insubstituível na lida da roça, no engenho de cana e no transporte de toras. O segundo vencia as distâncias mais longas e servia para o dia a dia no manejo do gado.

A força de trabalho provinha dos braços dos próprios familiares, além de um ou outro agregado. Faltava mão de obra. Diante disso, o gado leiteiro era guardado no próprio pátio à entrada da sede. A medida facilitava a vigilância das reses pelo próprio fazendeiro e evitava longas caminhadas para buscar o gado para se tirar o leite.

A casa da fazenda obedecia a um modelo tradicional. Normalmente era construída em um declive facilitando a chegada da água canalizada em rego. As paredes eram erguidas com adobe misturado com estrume de gado para dar ligadura. Quando utilizavam tijolos, eram feitos com terra boa, queimados, recortados em tamanho grande e bem fortes. De pintura, as casas eram caiadas no puro cal virgem.

As repartições internas da casa rural traduziam os rígidos costumes familiares da época. A porta da entrada principal dava acesso à sala. Ao lado desta, encontrava-se um cômodo, quarto de sala, destinado a alguma visita mais importante. Uma porta entre a sala e o restante dos quartos, se fechada, isolava os aposentos da família. Mais ao fundo um corredor e a varanda que dava acesso à cozinha, à despensa e ao terreiro. Na varanda, quase sempre uma mesa comprida com dois bancos laterais.

Fundamental também era o rego d’água, com múltiplas finalidades, servindo a família e os animais. Começava numa nascente ou córrego e escorria a céu aberto até cair na bica da porta da cozinha. Servia para uso doméstico, liberava água para a hortaliça, movia a roda d’água, o monjolo e descia pelo engenho de cana.

Em resumo, tudo era bem organizado na fazenda tradicional embora, aos olhos do visitante, a impressão fosse outra.

A fazenda tradicional era auto suficiente. Bastava a si mesma. A vida na cidade é que foi despertando nas pessoas outras necessidades que elas não tinham.

FOTO: Modelo antigo de fazenda. (Reprodução)

FOTO: Modelo de casa rural com curral (Reprodução)

FOTO: Curral e fazenda antiga. (Reprodução)

FOTO: Paredes em tijolos grandes. (Reprodução)

Luís Estevam

 

 

 

 

 

 

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