Recordações da Academia Catalana de Letras – O Tiro de Guerra de Catalão

A Academia Catalana de Letras relembra que, na metade do século passado os jovens catalanos, ao completar 18 anos de idade, tinham duas possibilidades de cumprir suas obrigações militares sem sair da própria região. Poderiam engajar-se no 6° BC de Ipameri ou servir o Tiro de Guerra em Catalão.

A vantagem era que, no Tiro de Guerra o recruta continuava a exercer suas atividades profissionais, tendo apenas que participar do treinamento previsto pelas forças armadas, geralmente nas madrugadas e nos finais de semana.

Na época, servir o exército era motivo de orgulho para os moços de todas as camadas sociais. O uniforme, a disciplina, os desfiles cívicos, o fisiculturismo, o respeito por parte da polícia, as acrobacias e o sucesso com as garotas compensavam o esforço despendido.

Porém, com o início da II Guerra Mundial, a convocação para as fileiras do exército, a obrigatoriedade de partir e a incerteza do retorno fizeram a condição de reservista bem menos atrativa. Mesmo depois, com o término do conflito, muitas unidades de formação militar foram perdendo o antigo brilho, o alistamento foi rareando e, pouco a pouco deixando de existir.

Foi o que ocorreu com o Tiro de Guerra de Catalão.

Na verdade, Tiros de Guerra são unidades criadas pelo exército brasileiro para atender moradores do interior do país, impossibilitados de se deslocar para centros maiores em busca do serviço militar. Por curiosidade, a etimologia da palavra vem do latim “tiro”, termo usado para descrever novato, jovem soldado e recruta.

No treinamento da época, o atirador aprendiz permanecia de 6 a 10 meses participando de atividades específicas a uma batalha, tipo corpo-a-corpo com a utilização de baionetas. Em época de paz, o soldado, depois de formado, era licenciado das fileiras do exército, tornando-se legalmente um reservista.

O Tiro de Guerra é fruto de um convênio firmado entre o exército e a prefeitura municipal que arca com as despesas correntes do material consumido pela tropa e pagamento de soldo aos instrutores. Às forças armadas, por sua vez, cabem as despesas com investimentos em acomodações, uniformes e armamento bélico.

Várias cidades do interior goiano, na primeira metade do século passado, inauguraram unidades de Tiro de Guerra, algumas das quais existem até hoje como em Anápolis, Iporá e Porangatu.

Em Catalão, por iniciativa de Antonio Azzi, no início da década de 1940, foram iniciados os preparativos para instalação de um Tiro de Guerra no município, com o apoio do prefeito Alberto de Miranda Storni. O Ministério da Guerra exigiu a concessão de um amplo terreno para edificação da sede e a prefeitura destinou a área onde se localizava o antigo cemitério da cidade para a instituição. Formou-se uma comissão e o convênio foi viabilizado.

A diretoria do Tiro de Guerra foi inicialmente composta por Randolfo Campos , Alberto Storni, Antonio Azzi, João Calaça, Tharsis Campos, João Pascoal, Frederico Campos, Waldemar Carneiro, Francisco de Paula Neto, Ovídio Carneiro e Wison da Paixão. Com o hasteamento da bandeira nacional em 1942, a unidade esteve em pleno funcionamento.

O palco das operações de campo foram os cerrados em torno do Morro das Três Cruzes. O pátio de exercícios físicos, treinamento e acrobacias era o próprio terreno do velho cemitério.

Todas as operações eram comandadas pelo sargento Philomeno Castro. Ele, rígido e infatigável, foi o responsável direto pela formação de dezenas e dezenas de reservistas em Catalão, sendo muito temido e respeitado pela tropa. Sob sua orientação foram designados para a guerra os jovens catalanos Geraldo Martins Teixeira, Aldemar Fernandes Ferrugem, Manoel Camilo Neto, João Kotnik, João Pinto de Melo Filho, Virgílio Caixeta e José Ângelo que partiram, sem demora, para juntar-se às forças expedicionárias.

Logo depois foram convocados outros jovens catalanos que ficaram aguardando embarque no Porto de Santos. Dessa feita, estavam Dolores Ayres Júnior, Expedito Dias, Sabino Gomides, Briand de Deus Passos, Antonio Mariano da Silva, Lauriston Carneiro de Castro, Geraldinho da Costa Canedo, Jofre Rodrigues de Oliveira, José da Costa Canedo e Marcílio Pereira de Amorim. No todo, Catalão enviou 17 soldados para a guerra. Todos retornaram vivos, menos o pracinha Aldemar Fernandes Ferrugem, aliás, o único goiano a ser morto no conflito.

Bem depois, na década de 1970, quando não mais existia o Tiro de Guerra de Catalão, o prefeito Silvio Paschoal criou uma praça no terreno do antigo cemitério e a batizou de Praça Duque de Caxias em memória do patrono do exército brasileiro e da unidade de treinamento que existiu naquele local.

Recentemente o prefeito Adib Elias Júnior reformulou inteiramente a praça, conservando o seu antigo nome: Duque de Caxias.

FOTO: Exercícios de acrobacia no pátio do Tiro de Guerra de Catalão.

FOTO: Recrutas em exercícios no Tiro de Guerra em Catalão.

FOTO: Treinamento no pátio do Tiro de Guerra de Catalão.

FOTO: Local exato onde era o Tiro de Guerra de Catalão de frente à Praça Duque de Caxias. (Foto: Sílvio Lucas)

FOTO: Membros do Tiro de Guerra de Catalão em cerimônia na frente da sede da instituição. (Década de 1940)

 

Luís Estevam

 

 

 

 

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