Uma Partida de Futebol por Paulo Pazz

Em Catalão, dois marcos dividem espaço em primeiro lugar na memória: o Morro da Saudade e o estádio Genervino Evangelista da Fonseca, ou simplesmente campo do CRAC. Localizado na região central da cidade, o estádio foi, e ainda é, palco de disputas memoráveis de futebol, tanto amadoras quanto profissionais.
Naquele domingo, eu, como sempre fazia, vesti uma bermuda, a camiseta azul e branca, peguei meu radinho e desci pela antiga rua Santa Cruz. No caminho, ia encontrando outros colegas e, quando nos aproximávamos do largo da Velha Matriz, já éramos algumas centenas de torcedores.
Ao lado da bilheteria, a caminhonete de abacaxi e melancia do Divino carroceiro era o ponto mais disputado. Do lado de dentro do estádio, vendedores de espetinho, pipoca, picolé, amendoim, maria-mole e até pinga a gente encontrava… Ô, se não!
Espremidos nas arquibancadas de cimento e sob o sol escaldante, nós torcedores gritávamos o nome do Leão do Sul, passionais e apreensivos.
Aquela partida contra o time do Goiás era a mais esperada da rodada. Um ou outro que vencesse assumiria o primeiro lugar do campeonato.
O Facão serralheiro, que ficava a partida toda de pé, andava de lado a outro, rente ao alambrado. Osvaldo “sapo” ziguezagueava nas arquibancadas compridas, carregando na cabeça uma bacia de alumínio cheia de saquinhos de pipoca.
Outros personagens antológicos faziam parte da massa torcedora, como Pernambuco, Zé Gamela, João Coelho, Porquinho, Zé Bunda, Chafi, Nena, Nivaldo ferreiro, Ricardo da Nenza, Piôi, seu Lázaro vidraceiro e mais uma renca de gente de todas as classes que, ali, se igualavam em tudo: torcedores do Leão.
A partida se desenrolava truncada e sem muita emoção, com as duas equipes se respeitando em demasia. Até o final do primeiro tempo, nada de gols.
O intervalo era a senha para todos correrem para os banheiros ou para o barzinho que ficava por trás e acima das arquibancadas.
_ Quinze minuto passa logo, seu Salvador, me dá logo um picolé de tumarim – gritou Norberto.
O trio de arbitragem volta para o centro do campo sob manifestações calorosas e pouco agradáveis da torcida. Vindo da capital, e no mesmo ônibus do time visitante, não era bom sinal.
O CRAC segue pressionando, até que o atacante entra pela direita e dribla o zagueiro que o chuta na altura do joelho.
_Pênaltiiiii! – gritou a torcida.
Enquanto o jogador se estrebuchava no chão, o Goiás, em contra-ataque, faz o gol. Paulinho massagista e Jarbas Nascimento desesperam-se. A torcida, revoltada não se aguenta.
Daí em diante, virou uma guerra de cascas de melancia, buchas de laranja, garrafas, pilhas e até botinas ou chinelos voavam em direção ao árbitro.
Como o policiamento era mínimo (apenas três), foi impossível conter a turba. Árbitro, auxiliares e time adversário correram para o vestiário que não oferecia muita segurança, além do próprio telhado. Aliás, o telhado converteu-se de escudo a arma contra os mesmos.
José Sóter, Tocar e Paulo Hummel, indignados, arrancaram um monte de telhas e arremessaram contra todos lá dentro.
O trio, depois de tomar tantas telhadas, conseguiu sair por um buraco no muro e desceram pelo mato, até pular no Ribeirão Pirapitinga, em meio aos dejetos de toda a cidade.
Dizem que os três ficaram por ali até escurecer e depois seguiram pelo leito sujo até próximo ao que hoje é o DIMIC e de lá pegaram a estrada velha de Goiandira.
Não sei se é verdade, mas correu a notícia de que foram vistos na carroceria de um “fenemê” lá para os lados de Pires do Rio, na terça-feira.
Será?

Paulo Pazz

 

 

 

 

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